"Eu tenho NOJO do você, Stênio"
Esse é um ano muito especial para o cinema de gênero no Brasil. Tivemos BACURAU sendo um grande sucesso de público nacional e fora do país, e agora temos um bom filme de Terror MORTO NÃO FALA.
Dirigido por Dennison Ramalho, o filme conta a história de um plantonista do IML de São Paulo chamado Stênio (Daniel de Oliveira). Stênio tem a estranha habilidade de conversar com os mortos. É uma habilidade que é mostrada logo no início do filme sem cerimônia e que não tem aquela típica “explicação Hollywoodiana”. Ele simplesmente tem essa habilidade e pronto. Stênio escuta lamentações e até pedidos finais dos mortos que chegam em seu plantão. Ele atende alguns pedidos simples de alguns mortos como avisar determinado parente da morte de seu familiar, mas nunca pedidos que influenciam na vida dos os que estão ainda vivos.
A rotina de Stênio é desgastante e ele quase não dá atenção para sua esposa e filhos. Isso influencia em seu casamento, já que sua esposa, Odete (Fabíola Nascimento), não vê com bons olhos o emprego de seu marido e o traí constantemente com o dono da padaria de seu bairro, Jaime (Marco Ricca). Em um de seus plantões noturnos, um vizinho acaba chegando morto no IML. Em sua última conversa com Stênio ele acaba revelando que sua mulher está tendo um caso com o Jaime. Stênio então decide ignorar o seu modus operandi com os mortos e resolve usar uma informação que ele obteve de um bandido morto em uma disputa de traficantes para poder se vingar de Jaime. Como Stênio usa seu dom de forma errada, isso acaba se voltando contra ele e seus filhos, com isso deixando sua vida ainda mais conturbada.
O filme tem uma ótima premissa e funciona muito bem em sua primeira metade. A produção é impecável e investe muito bem nos efeitos práticos. Os corpos e toda a maquiagem nos mortos é fantástica, com um grande trabalho técnico da produção. O trabalho de ambientação também é muito bom. Parece realmente um IML de uma cidade grande, com uma repartição pública suja e tipicamente brasileira. Mesmo tendo muitos atores do Sul do país, podemos ver o esforço da produção em replicar a periferia de São Paulo no filme. Infelizmente ainda temos alguns momentos duvidosos e alguns momentos absurdos de roteiro, principalmente na segunda metade do filme.
Sim, o filme consegue inverter um pouco os padrões desse tipo de produção. Geralmente o protagonista que é atormentado pela a ameaça sobrenatural é o “herói” da trama. Mas aqui meio que esse papel é invertido e temos a ameaça sobrenatural com uma motivação clara e compreensível, tanto que em um determinado momento da trama você não sabe para quem "torcer". É uma visão bastante peculiar e interessante para este gênero e que dificilmente iremos ver em uma produção estrangeira. Infelizmente a execução dessa segunda metade do filme segue uma direção mais clichê, bem aos moldes dos filmes de Terror de fora. Jump Scares com música alta e um momento absurdo na história que não tem nenhum resultado real e que só serve para chocar visualmente, acabam te tirando um pouco do filme. Felizmente temos um final interessante e que compensa os momentos desconexos e estranhos do filme.
Morto não Fala é mais uma produção interessante e que tenta algo novo no cinema nacional, sem perder a “brasilidade” (Tm Arion) na tela. É uma história que aproveita muito bem as características do nosso país (NELSON RODRIGUES VIBE CHECK) e consegue “misturar” bem com elementos já tradicionais do cinema de Terror Hollywoodiano (até os ruins). O Cinema gênero brasileiro está evoluindo e esse tipo de história está ganhando cada vez mais espaço no mainstream brasileiro, com o apoio da Globo Filmes e o Telecine. Bacurau fez isso com perfeição. Morto não Fala não acerta totalmente, mas mostra inteligência em subverter clichês e consegue se destacar positivamente. Espero ver mais disto no futuro.
Nota: 8
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