terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Em sua Defesa: O Poderoso Chefão Parte III




"Just When I Thought I Was Out, They Pull Me Back In!"




Tem certos filmes e trilogias que eu gosto de rever de tempos em tempos, mas com uma boa diferença de anos em cada conferida. Neste carnaval eu resolvi rever a trilogia do Poderoso Chefão. A última vez que eu vi foi no lançamento do DVD com a nova versão remasterizada pelo diretor Francis Ford Coppola há uns 7 ou 8 anos. Daquela vez eu me lembro de ter visto o terceiro filme com aquele desdém clássico dos fãs da trilogia, mas o filme finalmente me ganhou. E hoje vendo ele novamente no Blu-ray o filme me cativou mais uma vez. Sim, os dois primeiros são obras de arte do cinema. O Coppola realmente cravou para sempre o seu nome na história do cinema com estes dois espetaculares filmes. Poucos filmes estão no mesmo patamar deles e duvido muito que teremos outro filme que chegue perto (Eu até prefiro Os Bons Companheiros ao invés de Poderoso Chefão 1 e 2, mas é claro que eu reconheço que os filmes do Coppola são melhores que a visão mais “humilde” de Martin Scorsese sobre a máfia). Mas por que o ódio para o terceiro filme?






Primeiro que ele nem deveria ter existido, já que a Paramount vivia enchendo o saco do diretor para ele fazer um novo filme. Coppola só aceitou porque seu filme O Fundo do Coração, de 1981, afundou nas bilheterias. O cara pediu 6 meses para produzir o roteiro com Mario Puzo, escritor do livro que gerou o primeiro filme e de sua continuação, mas a Paramount só deu 6 semanas para os dois. Os problemas com o elenco também foram surgindo. Robert Durvall, o eterno Tom Hagen, não aceitou participar do filme já que o pagamento de seu cachê seria inferior ao de Al Pacino (Michael Corleone). Todo o filme teve que ser reescrito as pressas. Outro problema foi a escalação da filha de Michael, Mary. Winona Ryder estava praticamente certa, mas desistiu quando soube que sua personagem teria um relacionamento incestuoso com seu primo Vincent (Andy Garcia). Isso levou o diretor a escalar sua filha, Sofia Coppola como Mary. E nossa... COMO ELA MANDA MAL NO FILME, PQP!


Morte mais ruim do que essa, só a da Talia no The Dark Knight Rises


O próprio Coppola disse que a trilogia é sobre pais que fazem de tudo para proteger e garantir um futuro melhor para os seus filhos, mesmo que para isso eles tenham que cometer vários pecados. E esses pecados inevitavelmente serão herdados pelos seus filhos. E não é que isso aconteceu com a filha dele? As críticas foram tão devastadoras que acabaram de uma vez com a carreira de atriz de Sofia. Na tentativa de alavancar a carreira da filha, o cara simplesmente a queimou logo no começo. Ainda bem que ela deu a volta por cima e hoje em dia é uma grande diretora. Mas é realmente justo culpar o filme só por esses elementos? Muitos dizem que a trama foi muito exagerada. Michael se envolvendo com a alta cúpula do Vaticano entre outras coisas, mas são outros elementos que me agradam cada vez mais que eu vejo o filme.





A tentativa de Michael de finalmente legitimar a sua família, e assim finalmente livrar todos de um negócio sujo é realmente espetacular. Um cara que nunca quis isso e que mesmo assim aceitou o fardo de ser o novo Don para salvar a família. Um homem que teve que tomar uma série de decisões difíceis neste papel. Um cara que perdeu o seu casamento, uma vida mais próxima com os seus filhos e a culpa de tirar a vida do próprio irmão. E mesmo com toda essa carga negativa ele ainda tenta salvar o legado de sua família. E toda vez que eu vejo eu ainda torço para que tudo dê certo no final. Você tem aquela pequena esperança de que o Michael vai salvar todo mundo, e ele finalmente vai encontrar a paz que ele e sua família desejam tanto.


Mas é claro que depois do atentado de Joey Zasa (Joe Mantegna) contra todos os chefes das famílias e a trama arquitetada por Licio Lucchesi para acabar de uma vez por todas com Michael, suas esperanças vão para o ralo. Uma cena que sempre me pega e que sempre é referenciada por aí em outros filmes e séries, com uma atuação magistral de Al Pacino. A cena em que Michael se confessa para o cardeal é outra que mostra muito bem o peso de cargas negativas que Michael carregou por todo este tempo. Outra cena fantástica é “trégua” entre Michael e sua ex-mulher Kay (Diane Keaton). Ainda é visível o amor entre os dois, mas depois de tudo que aconteceu é simplesmente impossível ter uma volta.











Eu acho que o filme sofre de alguns problemas sérios de ritmo e de roteiro. Tem muita coisa no começo que parece que foi reescrita depois. Muitas perguntas e respostas estranhas. Os diálogos não funcionam tão bem como nos primeiros filmes, mas eu ainda acho que o final do filme compensa toda a jornada. Mesmo coma péssima atuação da Sofia, toda aquela sequência final do filme é emocionante. E finalmente vimos Michael realmente sentir o peso de sua vida em um final arrebatador. Tanto Don Vito Corleone (Marlon Brando) e Don Michael Corleone poderiam ter sido grandes homens, mas ambos não tiveram algo que realmente os fizessem se libertarem de seus passados trágicos. No final o velho “Aqui se faz, aqui se paga” se faz por valer. Poucos personagens tiveram finais tão dramáticos como o de Michael. Se o filme não está no mesmo patamar dos dois primeiros, com certeza encerra a trilogia de maneira satisfatória. Se você é mais um dos que não gostam muito do filme, eu daria outra chance a ele. Tente ver ignorando estes pequenos problemas e foque na jornada de Michael. Eu sei que tem uma galerinha que acompanha o blog e que nunca viu o filme e que acha o final de Breaking Bad sensacional e tudo mais. Para esses eu recomendo ainda mais essa trilogia. Antes de Walter White, tivemos Michael Corleone em toda a sua "Glória Trágica".






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