Você sai de casa com uma camiseta do Star Wars e, no metrô, vê um garoto com uma mochila com formato do capacete do Darth Vader. Automaticamente, a marcha imperial toca dentro da sua cabeça. Talvez o garoto, na cabeça dele, esteja ouvindo a trilha da cena de Luke diante do pôr do sol binário ao olhar para você...
Em cada lugar que você vai, não
tem como escapar da cultura criada em torno de Star Wars! São roupas,
brinquedos, material escolar, capas de celulares... E se você ainda não entrou
nesse universo, prepare-se para além dos filmes, assistir as séries, ler os
livros e os quadrinhos, jogar os games e ficar louco tentando separar o que do
“Universo Expandido” vale a pena ler e o que deve ser desconsiderado!
O sétimo episódio cinematográfico
dessa saga bilionária chega aos cinema no final deste ano, aguardadíssimo! E
por trás dele, estão nomes importantes da indústria do entretenimento, que
sabem o quanto a franquia é importante não só para as mídias de entretenimento,
mas para toda uma cultura. Por quê?
Há quase quarenta anos a saga
iniciada por George Lucas em 1977 não só se tornou um sucesso inegável, mas
também é de uma enorme importância cultural tanto para o cinema como para as
demais artes destinadas ao entretenimento. Mesmo que você nunca tenha assistido
nenhum filme da saga, nem consumido nenhum produto direto de Star Wars, ainda
assim está sujeito às referências em outras artes, mesmo as que não tem ligação
com a ficção (como essa em How I Met Your Mother).
Muitos sucessos de bilheteria e
sagas fantásticas adoradas por quem não é fã de Star Wars sofreram influência
ou simplesmente existem por causa da saga criada lá nos anos 70. Exagero meu?
Talvez sim, talvez não. Não há outras histórias antes de Star Wars que são mais
importantes e influentes? Claro que tem! E muitas! Inclusive algumas delas influenciaram Star Wars, que tem muitas referências a trabalhos anteriores... Mas não há como negar que Star Wars deixou de ser uma
simples história e tornou-se um ícone cultural, de tão enraizado em nossa
cultura atual.
Em 1977, quando o primeiro filme
foi lançado, a indústria do cinema norte-americano estava passando por uma
mudança que a tornou o que ela é hoje! Depois de um período dourado nas
décadas de 20, 30, 40 e 50, nos anos 60 o cinema de Hollywood passou por uma
crise, e o público parecia procurar por filmes com mais conteúdo artístico e
novas propostas. Mundialmente, eram a Nouvelle Vague francesa, o Cinema Novo, o
cinema japonês de Kurosawa e Ozu, e os cinemas italiano e alemão quem passaram
a ter uma relevância maior na cultura. Tanto que, no começo dos anos 70, depois
dos movimentos de contracultura do final dos anos 60, o cinema americano abriu espaço para cineastas independentes que tinham propostas mais humanas,
artísticas e sociais. Os sucessos folhetinescos de aventuras espaciais,
capa-e-espada e faroestes, deram lugar a filmes como Todos os Homens do
Presidente e produções de Woody Allen, Martin Scorsese (Taxi Driver), Francis
Ford Coppola (O Poderoso Chefão, Apocalypse Now!) e Stanley Kubrick (2001,
Laranja Mecânica).
Mas o cinema norte-americano é,
em sua essência, para as massas! E quando a novidade da televisão passou, o
público americano queria filmes de entretenimento, que não fossem tão toscos
quanto os filmes B dos anos 50 e 60. A verdadeira “revolução” no cinema começou
com Steven Spielberg e seu Tubarão (1975), campeão de bilheterias do ano. Claro
que os estúdios queriam era isso mesmo: filmes de entretenimento que lotassem as
salas ($$$$$), não que ganhassem prêmios ($). E então, em 1977, George Lucas levou às
telonas seu Star Wars – Episódio IV: Uma Nova Esperança (que pra mim será
eternamente Guerra nas Estrelas)!
Filas e mais filas nos cinemas
para ver aquele filme que tinha aventuras espaciais, capa-e-espada, faroeste,
romance, comédia e “revolucionários efeitos especiais”! Star Wars ajudou a
criar o termo “blockbuster” por causa das filas que viravam o quarteirão, e foi
a peça determinante para que o cinema de Hollywood aplicasse ao seu modelo
industrial de fazer filmes, elementos que são importantíssimos até hoje para
garantir um sucesso de bilheteria: investir na tecnologia do momento e criar
histórias lúdicas baseadas na “jornada do herói” (falaremos disso em outro
post, espere hehe), que possam além de cativar o público, se transtornar em
fonte de renda em outros meios.
O filme de 1977 foi seguido por
outro em 1980 e outro em 1983 e, depois dessa primeira trilogia, não tinha como
fazer um filme norte-americano de sucesso sem que houvesse influência da saga,
seja pelo seu modelo de história, seja pelo apelo aos efeitos especiais. Os
anos 80 tiveram um boom de filmes de ficção científica e de ação em ritmo
alucinado, como antes não se via no cinema. Sequencias com cenas curtas, trilha
estimulante e com alguém numa situação heroica se tornaram tão comuns, que hoje
você nem percebe!
Nos anos 90, o “modelo Star Wars”
de fazer filme já era unanimidade em filmes de entretenimento com histórias de
ação e fantasia. O desenvolvimento em efeitos especiais passou a ter um peso
enorme na criação de filmes, tendo como exemplo os filmes do Jurassic Park e O Exterminador
do Futuro 2. As produções de proporções gigantescas e milionárias e suas
enormes bilheterias passaram a ser algo corriqueiro, como foi com Titanic e O
Resgate do Soldado Ryan. E a ficção e a fantasia tornaram-se peça chave para o
desenvolvimento de sagas heroicas e fantásticas no cinema, como os filmes do
Batman, O Quinto Elemento, Independence Day e MIB – Homens de Preto.
No final dos anos 90 e começo
deste século, uma nova etapa do cinema de entretenimento começou, com o
desenvolvimento de técnicas digitais além do que poderia ter sido imaginado nos
anos 70. Tivemos Tropas Estrelares, tivemos Contato, tivemos A Múmia... e
tivemos Matrix.
Claro que George Lucas,
acompanhando toda essa evolução dos efeitos de camarote com a sua ILM (empresa
que ele criou para os efeitos do primeiro Star Wars e que tornou-se fomentadora
de novas tecnologias para a indústria do entretenimento) e sabia da demanda
crescente do público por sagas fantásticas tão boas quanto a que ele “criou” (explicaremos
às aspas em outro post, hehe). Então, trouxe ao mundo uma nova trilogia, com
seus Episódios I, II e III!
Independente da questão se os novos filmes são tão bons ou não quanto a trilogia original, essa nova trilogia não
só trouxe a cultura Star Wars para uma nova geração, como foi também importante
para bater o martelo a favor da quase necessidade de utilização de efeitos
digitais para garantir o sucesso de um filme. Junto com as trilogias (que não
seriam trilogias sem Star Wars!) de O Senhor dos Anéis, X-Men, Homem-Aranha e
Harry Potter, a nova trilogia de Star Wars não veio para influenciar a arte
(isso a primeira trilogia já fez), mas para praticamente impor ao mercado o
modelo atual de entretenimento: criar filmes fantásticos, com efeitos de última
geração, que irão gerar dividendos em outras mídias de entretenimento!
Se na primeira trilogia esse
modelo foi apenas um “vamos aproveitar a onda”, na segunda ele virou obrigação.
Fazer um filme de fantasia e ficção que não se expanda para jogos, brinquedos,
quadrinhos, séries e TV, e o que mais os produtores imaginarem, é quase como assinar
o próprio atestado de óbito no mundo do entretenimento.
Hoje, de novo, Star Wars está
redesenhando o mercado cinematográfico. Não mais nas mãos de George Lucas, mas
agora assumido por ninguém mais que J.J. Abrams – que mudou a TV com seu Lost –
e trabalhando para a “dona absoluta do mercado de entretenimento lúdico juvenil”,
conhecida como Disney. Uma nova trilogia vem aí! E, acredito eu, que a partir
dela a indústria chamada Hollywood vai deixar de estar a milhas de distância de
qualquer outra indústria cinematográfica mundial, para ser lançada à
estratosfera e garantir seu lugar no paraíso intocável nos céus!
Milhões (ou bilhões) de pessoas
pagarão para assistir aos filmes em super-alta-definição, com efeitos especiais
irreais de tão incríveis. Se emocionarão com uma nova saga, uma nova história
de um novo tipo de herói, numa releitura atual do modelo mitológico descoberto
por Joseph Campbell. E mais: irão assistir às novas séries criadas a partir da
trilogia, jogarão os logos, lerão os livros e os quadrinhos... Gastarão bilhões
de dólares para ter acesso a uma história de entretenimento única, rica e
fantástica, como desde 1977 não se via!
É só esperar! ;)
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