Podemos afirmar que a maior discussão de 2019 foram as declarações do diretor Martin Scorsese sobre os filmes da Marvel. Ele afirmou que o filmes da Marvel são “atrações de parque de diversões” e que isso não é cinema. Em concordo um pouco com ele, mesmo sabendo que tudo de alguma forma é cinema. A Marvel produz filmes como se fosse uma linha de produção. Tudo certinho e seguindo uma fórmula e um ótimo planejamento. Sim, tem a mão corporativa da Disney nisso, mas, em seu núcleo de criação e processo criativo, temos profissionais que realmente entendem o produto e SABEM o que os fãs e o grande público – Civil – quer ver no cinema.
A franquia Star Wars é também um desses “parques de diversão cinematográfico”. É o primeiro parque deste tipo, mas que viveu boa parte de sua vida nas mãos do seu próprio criador e livre das amarras corporativas de Hollywood, da qual só usava meramente para distribuir os filmes. Havia mais liberdade e espaço para errar também, já que ainda era uma relação quase de “fã para fã” entre o Lucas e o Fandom. Era “negócios” também, mas ainda era mais controlado. Isso tudo mudou quando Lucas vendou a sua franquia para a Disney. Conhecida também pelos seus parques de diversão, Star Wars agora é OBRIGADO a dar resultado. Essa obrigação vai sempre gerar conflito entre os fãs e decisões questionáveis.
Não vou entrar em muitos detalhes aqui, mas quem acompanha o movimento THE FANDOM MENACE em várias redes sociais sabe o quanto os bastidores da franquia vivem um clima de guerra. A situação só não é pior porque a Disney tem outras propriedades intelectuais dando muito certo. Em 2019, a Disney foi o primeiro estúdio que conseguiu arrecadar mais de 10 BILHÕES DE DÓLARES EM BILHETERIA EM UM ÚNICO ANO! Esses números diminuem o fracasso retumbante da franquia mais importante da história do cinema, mas escancaram o problema da Disney em conseguir trabalhar com Star Wars no cinema.
A falta de um planejamento para criar uma estória coesa, alinhado com uma visão que atendia a agenda política da presidente da LucasFilms, Kathleen Kennedy, e um GIGANTESCO desrespeito com os personagens principais da trilogia clássica praticamente arruinaram essa primeira fase da Disney. A Ascenção Skywalker é a “coroação” deste péssimo trabalho. É um filme que tenta dar um retcon no filme anterior, espremendo dois filmes em um só. É um filme que tenta desesperadamente agradar todo mundo, e para isso ele renega até a estrutura já conhecida dos outros filmes da saga. Logo no início já podemos notar um ritmo bem diferente, parecendo mais um filme de super-herói do que Star Wars.
A decisão de trazer novamente o imperador Palpatine se mostrou falha desde o letreio clássico até o clímax do filme. Como já era previsto, o diretor J. J. Abrams e o roteirista Chris Terio (Batman v Superman), não explicam como o personagem sobreviveu aos acontecimentos de O Retorno de Jedi, e tão pouco como ele criou a sua gigantesca frota de Star Destroyers. É visível como eles não conseguiram contornar a morte do Supremo Líder Snoke. Neste desespero, até a atuação do grande Ian McDiamird. Tudo que foi escrito para ele neste filme fez com que o personagem desse ficasse com um aspecto galhofa e desinteressante.
Rey (Daisy Ridley) é a personagem que mais foi afetada com desenfreada ânsia de mudanças promovidas pela produção. O filme joga no lixo o que foi estabelecido em The Last Jedi, mudando mais uma vez sua origem. Essa é mudança crucial foi feita sem nenhuma construção real e com muito brilhantismo dentro do roteiro do filme. O público já consegue “sacar” de quem ela tem parentesco logo no início do filme. Kylo Ren (Adam Driver) segue sendo um vilão pouco ameaçador e que tem um arco que também sofre com mudanças bruscas. Rey e Kylo tem uma resolução que parece que foi escrita em algum Tumblr ou blog de fanfics adolescentes, tamanho é a falta de criatividade do roteirista.
Leia Organa (Carrie Fischer) tem uma participação bem bizarra no filme. A atriz que morreu em dezembro de 2016 está no filme graças a cenas de B-roll’s dos outros dois filmes da trilogia, mas tem algo estranho nestas cenas com ela. Você realmente percebe que a atuação da Carrie não é para aquele momento especifico. Me lembrou muito aquele episódio dos Simpsons sobre a gravação do filme do Homem Radioativo. No meio do filme, Milhouse, que atuava como parceiro do herói, resolve fugir da produção do filme. Desesperados, os produtores resolvem usar outras cenas do próprio Milhouse para terminar, mas nada daquilo bate com o restante do filme. É bizarro, mas eu vi isso em um filme de verdade agora. Leila também tem um papel de mestre de Rey. Neste filme nós descobrimos que a Leia também seguiu no treinamento Jedi, mas abandonou quando ficou grávida de Ben Solo.
O único personagem que tem um pouco de redenção é Luke Skywalker (Mark Hammil), que aqui tem uma boa participação como fantasma da Força em uma ótima cena. Você percebe que a cena foi um recado direto para o diretor de The Last Jedi, Rian Johnson. Uma pena, porque se essa trilogia tivesse um planejamento sério, não teríamos este tipo de picuinha entre os envolvidos. Poe Dameron (Oscar Isaacs) e Finn (Jon Boyega) e C3PO (Anthony Daniels) participam mais da aventura e mostram que a trilogia poderia ter aproveitado mais estes atores e terem deixado esses personagens mais unidos. Foi o único filme que chegou um pouco perto da dinâmica do grupo original da trilogia clássica, mas infelizmente fez isso nos acréscimos do segundo tempo. Lando Calrissian (Billy Dee Williams) faz uma boa participação no filme. Nada muito grande, mas pelo menos não sofreu uma morte estúpida como os seus outros parceiros de trilogia clássica. Os Cavaleiros de Ren são só Stormtroopers um pouco mais habilidosos. Os Sith Troopers são só Stormtroopers normais, mas com uma armadura vermelha.
Os outros personagens do filme têm pouco ou quase nenhum destaque. Rose Tico (Kelly Marie Tran) foi renegada a um papel quase de figurante. Ela é o Jar Jar Binks desta trilogia. Keri Russel como a contrabandista Zorii Bliss foi a personagem nova que eu mais gostei, mas mesmo assim participa bem pouco do filme. Tecnicamente o filme também não traz nada de novo. A batalha final é parece algo retirado de algum videogame clichê dos anos 90. Várias naves dos dois lados chegam para o grande main event da saga, mas tudo sem uma construção decente, só pelo espetáculo mesmo. As lutas de Sabre de Luz continuam PÉSSIMAS! Mesmo com um pouco mais de evolução de poderes dos dois personagens principais, a coreográfica continua preguiçosa e ensossa. O confronto final do filme também é bem fraco e pouco desenvolvido. Vocês gostaram daquele final do Homem de Ferro 2? Não, né? Pois bem, posso te adiantar que temos uma situação bem parecida aqui. Foi algo muito decepcionante. Visualmente é fraco, e como história ele renega o sacrifício de Darth Vader/Anakin na trilogia principal. É mais fácil você destruir algo estabelecido para validar o que você está fazendo agora do que realmente construir algo bem estruturado. J. J. Abrams não é um cara muito competente para finalizar histórias. Aqui não foi diferente.
A Ascensão Skywalker é um grande “Frankenstein corporativo”. Confuso e carregado de várias decisões idiotas de produção, é um filme que tenta agrada Gregos e Troianos, mas tropeça em sua própria mediocridade e a na falta de criatividade para trabalhar em um cenário pré-estabelecido (The Last Jedi).
Eu não vejo problema de ver filmes que são pensados como grandes atrações de parques temáticos como o Scorsese disse, mas quando esse tipo de produção dá errado o tombo é bem feio. É um filme que escacara a verdadeira face de uma Hollywood que ainda existe. Uma Hollywood que ainda não consegue enxergar o que o público realmente quer, mesmo vivendo em um mundo globalizado e de rápida informação, onde a repercussão de um filme é mais rápida, especialmente os fãs de Star Wars. Eles vivem em uma bolha onde críticas não parecem afetar eles e o produto final. O The Fandom Menace conseguiu incomodar nesses últimos anos, principalmente com os vazamentos do roteiro deste filme. Mesmo assim, a LucasFilms prefere jogar a culpa do péssimo resultado de seus filmes nesses fãs que estão-lhe dizendo o quanto este produto está ruim. É uma situação bizarra e que não parece ter um fim próximo. Mesmo com bom resultado da série The Mandalorian, é urgente que se tenha respeito com os fãs e que tenha um planejamento mais sério na produção dos futuros filmes.
Eu não vejo problema de ver filmes que são pensados como grandes atrações de parques temáticos como o Scorsese disse, mas quando esse tipo de produção dá errado o tombo é bem feio. É um filme que escacara a verdadeira face de uma Hollywood que ainda existe. Uma Hollywood que ainda não consegue enxergar o que o público realmente quer, mesmo vivendo em um mundo globalizado e de rápida informação, onde a repercussão de um filme é mais rápida, especialmente os fãs de Star Wars. Eles vivem em uma bolha onde críticas não parecem afetar eles e o produto final. O The Fandom Menace conseguiu incomodar nesses últimos anos, principalmente com os vazamentos do roteiro deste filme. Mesmo assim, a LucasFilms prefere jogar a culpa do péssimo resultado de seus filmes nesses fãs que estão-lhe dizendo o quanto este produto está ruim. É uma situação bizarra e que não parece ter um fim próximo. Mesmo com bom resultado da série The Mandalorian, é urgente que se tenha respeito com os fãs e que tenha um planejamento mais sério na produção dos futuros filmes.
Essa trilogia foi a grande decepção da década, mas a franquia ainda não está morta. É só tratar com carinho e respeito que os fãs voltaram. Não adianta só contar com a força de um nome, é preciso respeitar este legado.
“Se construir, eles virão!” – Campo dos Sonhos, 1990
NOTA: 2/10 porque teve uma rápida participação do Wedge Antilles e o Chewie ganhou a sua tão merecida medalha.
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