segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Especial CYBERPUNK - Parte 1: Origens e Temas



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Depois de uma grande hiato criativo aqui no blog, vamos começar o nosso especial sobre CYBERPUNK! Especial que serve de aquecimento para o tão aguardado jogo que será finalmente lançado em Novembro, CYBERPUNK 2077!

E no nosso primeiro artigo nós temos a honrar de contar com a colaboração do nosso amigo Guilherme Colichini, que já participou de alguns episódios do MellonCast e que agora faz a sua estreia como colunista no blog. 



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O Universo Cyberpunk: Origens e Temas


Durante as décadas de 60 e 70, a literatura de ficção científica viu o aparecimento do gênero New Wave. Surgindo como uma alternativa à ficção científica clássica e sua temática mais utópica, o gênero New Wave tinha uma proposta mais moderna e voltada a temas sociais, como a cultura de drogas, tecnologia e a revolução sexual. Sendo assim, os autores do gênero como Philip K. Dick, Roger Zelazny e J. G. Ballard, preocupavam-se em criar histórias mais humanas e realistas, geralmente indo para o lado da chamada distopia (uma visão filosófica mais pessimista, geralmente com a presença de sociedades opressoras e um futuro negativo).  


Um grande expoente desse gênero foi o livro Do Androids Dream of Electric Sheep? (ou "Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?" no português), lançado em 1968, por Philip K.Dick, o qual mais tarde seria utilizado como base para o filme Blade Runner.



                                O precursor de Blade Runner

Apesar de estar situado no New Wave, a obra de Philip K. Dick foi de enorme influência para o surgimento do gênero Cyberpunk, sendo muitas vezes considerada como "protocyberpunk".  O termo Cyberpunk foi cunhado por Bruce Bethke em sua obra de mesmo nome, lançada em 1982. O gênero foi solidificado com o lançamento, em 1984, de Neuromancer, livro do autor William Gibson.


Esses livros, utilizando-se das raízes mais distópicas e sociais do New Wave, introduziram as temáticas punk e hacker, criando o gênero tal como conhecemos. No mundo Cyberpunk, tecnologia, drogas, poderosas corporações e problemas sociais estão em conflito, criando uma imagem realista e pessimista do mundo. São desses conflitos que surge Cyberpunk 2020, a visão de Michael A. Pondsmith sobre o gênero.




Capa da versão brasileira de Neuromancer (Editora Aleph)




O Precursor: Cyberpunk 2020 e a Visão de Michael A. Pondsmith


Se o livro "Os Androides Sonham com Ovelhas elétricas?" foi a grande inspiração para o filme Blade Runner, este, certamente, foi o grande influenciador para Michael Pondsmith criar Cyberpunk 2013 e Cyberpunk 2020. Com o objetivo de renovar o gênero Cyberpunk (que já demonstrava sinais de queda, principalmente com o crescimento do gênero fantasia), Mike combinou as megacidades, estilo visual e outros elementos de Blade Runner com as raízes e fundamentos do gênero Cyberpunk, como criminalidade, corporações poderosas e grupos sociais renegados. Em 1988, Michael lançou Cyberpunk (que mais tarde viria a ser conhecido por Cyberpunk 2013), um RPG de mesa com a temática Cyberpunk.




Blade Runner, o filme que influenciou Cyberpunk 2020



De 1989 a 2011, o mundo passou por uma série de catástrofes e revoluções. Enquanto incríveis tecnologias (incluindo implantes cibernéticos, uma base lunar e a Net, ou Rede) eram criadas, corrupção, pobreza e revoltas devastavam os Estados Unidos, provocando o colapso do país, o qual é agravado depois de suas duas guerras/invasões na América Central e do Sul. No mundo, revoluções e transformações também ocorreram. O Oriente Médio foi praticamente destruído em um conflito nuclear interno, a Europa cria um mercado comum e União Soviética e Japão tornam-se seus parceiros, é criada a Liga Pan Africana e a América do Sul torna-se uma região eclipsada pela corrupção, carteis e revoluções. Nesse caldeirão em ebulição, as corporações adquirem cada vez mais poder, tendo deflagrado duas grandes guerras corporativas: uma pelo controle do espaço aéreo e outra pelo controle de poços petrolíferos no sudeste asiático.




Arte do livro "Night City Stories", um guia complementar para Cyberpunk 2020



Em 2013, os Estados Unidos são uma sociedade dividida: enquanto os ricos vivem em bairros limpos e cheios de recursos, os pobres vivem em favelas e são relegados à sua própria sorte. As corporações estão no centro do poder, já que começaram a treinar seus próprios exércitos em 1997 e os Estados Unidos passaram a utiliza-los para manter a paz interna. Elas passam a ditar as normas sociais e impor seus interesses. No entanto, unindo-se contra a corrupção do governo norte-americano e os interesses corporativos, rockeiros, nômades (indivíduos sem teto que passam a viver em caravanas), mercenários e jornalistas tentam conquistar as ruas de Night City na chamada Revolução Cyberpunk, sendo este o ponto de partida para o jogo de tabuleiro Cyberpunk 2013




Capa de Cyberpunk 2013, jogo de mesa criado por Michael Pondsmith



Lançado em 1990 (dois anos depois de Cyberpunk 2013), Cyberpunk 2020 surgiu como uma versão melhorada de seu antecessor, trazendo melhorias para a lore, sistema de jogo e modificações nas classes. Com relação à história, Cyberpunk 2020 traz os acontecimentos dos últimos sete anos. Nesse curto espaço de tempo, há uma transformação tecnológica com a evolução da Rede, a criação da primeira inteligência artificial e o surgimento dos primeiros clones. Nesse ínterim ocorre a Terceira Guerra Corporativa (pelo domínio de servidores de informações conectados à Rede) e Night City é engolfada pela Guerra do Metal (um conflito de gangues por território).  No entanto, a premissa do jogo permanece a mesma.



Capa de Cyberpunk 2020



Sobre a cidade, Night City foi fundada por Richard Night, um ex-funcionário do setor de construção que fundou sua própria corporação, a Night International. Com o apoio e financiamento de diversas corporações (incluindo a Arasaka), Richard põe em prática o seu plano de construir uma cidade perfeita, sem crime e com amplas oportunidades. As corporações financiadoras ganhariam seus próprios setores, bem como o modelo de construção da cidade serviria como base para futuros empreendimentos. A construção começou em 1993 e em pouco tempo a cidade cresceu, com mais e mais corporações prestando auxílio. 


No entanto, em 1998 Richard é assassinado e uma guerra para obter o controle da cidade começa. Uma gangue intitulada The Mob, começou a atacar as corporações da cidade, provocando um conflito que durou 7 anos. Em 2009, a gangue passa a avançar contra a corporação japonesa Arasaka, que passa a utilizar ataques aéreos e tecnologia avançada para eliminar a gangue. A guerra terminou em 2011 com milhares de mortos e com uma vitória corporativa, já que conseguiram eleger um prefeito favorável às corporações. De 2013 a 2020, cenário dos RPG's de mesa, há o conflito entre as classes mais baixas, gangues e as corporações, culminando na Quarta Guerra Corporativa, onde a Arasaka e a Militech lutam pelo controle da cidade. 


O resultado é catastrófico, já que a Militech lança um ataque nuclear para impedir a vitória de sua inimiga japonesa. Cyberpunk 2077 tem lugar na mesma cidade, já reconstruída e cujo conflito de classes ainda persiste (o RPG de mesa Cyberpunk Red, com expectativa de lançamento ainda em 2020, contará sobre o “Tempo do Vermelho”, e será uma ponte entre Cyberpunk 2020 e 2077. Nos anos após a destruição de Night City, diversos grupos uniram-se para reconstruir a cidade, incluindo as corporações e os nômades. A cidade foi cercada pelas forças dos EUA durante a Guerra de Reunificação, mas o apoio da Arasaka garantiu a independência da cidade, bem como a influência dessa corporação).




Capa de Night City, complemento para o RPG de mesa Cyberpunk



"As corporações controlam o mundo de suas fortalezas em arranha-céus, impondo seu domínio com exércitos de cyberassasinos. Nas ruas, gangues com melhorias cibernéticas vagam pela vastidão urbana destroçada, matando e pilhando. O resto do mundo é uma festa sem fim, onde lindas modelos esfregam suas modificações corporais em guerreiros de rua prontos para a batalha nos clubes mais badalados, bares sujos e ruas mais terríveis deste lado do Pós-holocausto O futuro nunca pareceu tão ruim. Mas você pode mudá-lo. Você tem plugues de interface em seus pulsos, armas em seus braços, lasers nos seus olhos, programas de biochip gritam no seu cérebro. Você está ligado, cyberaumentado e em sólida forma para ir onde apenas os mais fortes e arrojados podem chegar. Porque você é CYBERPUNK." 




Michael Pondsmith, criador de Cyberunk 2020



Em 2005 foi lançado Cyberpunk v3.0, o qual não teve o mesmo sucesso que seus antecessores (e sendo considerado como uma história à parte por seu criador). Para continuar a história de Cyberpunk 2013 e 2020, Mike começou a desenvolver uma continuação que se passaria em 2027, depois da Quarta Guerra Corporativa

Enquanto trabalhava em seu projeto (que, coincidentemente, tem o nome de Cyberpunk RED e que será lançado ainda em 2020, sendo uma ligação entre Cyberpunk 2020 e Cyberpunk 2077), Mike foi contatado pela equipe da CD Projekt RED. Da parceria entre os autores de RPG, surge Cyberpunk 2077, com o lançamento de um teaser em 2012.









Em 2013, a CD Projekt RED lançou um novo video, dessa vez trazendo Michael Pondsmith. No vídeo, Mike fala sobre o mundo Cyberpunk e como isso seria traduzido em Cyberpunk 2077. A inspiração de Mike foi levar a realidade das ruas dos EUA para o universo Cyberpunk, unindo a distopia e tecnologia com elementos Noir. O mundo Cyberpunk, na visão de Mike, é onde a grande evolução tecnológica não eliminou os problemas sociais e humanos, criando uma sociedade tecnologicamente avançada, mas envolta em perigo. 


O mais importante não é a tecnologia em si, mas o uso que as pessoas fazem dela. Não é sobre salvar a humanidade, mas salvar a si mesmo. Segundo o autor, Cyberpunk 2077 é uma evolução de Cyberpunk 2020, amadurecendo o jogo em diversos aspectos e o tornando o mundo maior e mais perigoso. É a transformação de algo estático para um mundo grande e em movimento, fazendo o jogador sentir que ele realmente está lá.








As informações sobre Cyberpunk 2077 terminaram nesse último vídeo. Com The Witcher 3 a caminho, a CDPR deixou seu novo projeto em banho maria. Somente cinco anos depois, em 2018, Cyberpunk 2077 saiu de sua hibernação e finalmente será lançado em novembro de 2020.





Essa foi a primeira parte do especial Na segunda parte vamos mergulhar no mundo Cyberpunk japonês e sua influência na cultura pop e no próprio gênero.


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