sábado, 16 de agosto de 2014

My Two Cents About - Snowpiercer




"Keep Your Place"



Quando eu vi pela primeira vez o trailer de Snowpiercer, confesso que achei que o filme seria mais uma produção com um apelo “forçado”. Um futuro onde uma era de gelo acabou com toda a vida em nosso planeta, e os últimos sobreviventes vivem em um trem que circula sem parar por todo o planeta? Para piorar tinha o Chris Evans como protagonista, mas não é que eu estava totalmente enganado? A produção Sul-coreana está evoluindo, e Snowpiercer é um dos melhores filmes do ano. 





Dirigido pelo sul-coreano Bong Joon-Ho (O Hospedeiro), Snowpiercer é uma adaptação de uma HQ francesa dos anos 80', Le Transperceneige. O filme já começa mostrando como é a vida do último trem da humanidade. Uma divisão de classes mantém a ordem: Os pobres de várias etnias são amontoados no último vagão. Sem espaço e com pouca comida, são obrigados a lutarem entre si e a sobreviverem com rações produzidas pela ordem gestora do trem. Nos primeiros vagões vivem os mais ricos e influentes. Lá eles podem usufruir de cultivo de comida natural, festas que nunca acabam e uma melhor educação para as gerações futuras. E é lá onde vive o criador do trem, o industrialista Wilford (Ed Harris), Graças a ele e seu plano de construir uma linha de trem que cruza todo o planeta e um trem alto sustentável, ainda há alguns humanos em nosso planeta. Ele cuida do motor “que nunca para” e do destino dos sobreviventes. Curtis (Chris Evans) é o líder dos sobreviventes do último vagão e não concorda com a maneira que seu povo é administrado por Wilford. Junto de seu mentor, Gilliam (O veterano ator, John Hurt), ele arquiteta uma revolta. Seu plano é tomar o controle do trem, avançando pelos vagões até chegar à casa de máquinas onde fica Wilford. Para isso ele tem ajuda do seu melhor amigo, Edgar (Jamie Bell) e Namgoog Minsoo (Kang-ho Song de O Hospedeiro), um engenheiro que ajudou a projetar as postas dos vagões do trem. 
A revolta finalmente começa quando o filho de Tanya (Octavia Spencer) é tirado de sua custódia pelos gestores do trem. Curtis então começa a sua revolução através dos vagões, enfrentando várias dificuldades como Mason (Tilda Swinton), uma das gestoras de Wilford, e que se parece muito com a antiga primeira-ministra Margaret Thatcher. Ela comanda os menos favorecidos com “mão de ferro”





O filme mostra muito bem esse embate de classes, fazendo uma ótima parábola com a história da nossa própria sociedade. Em um tempo que a desigualdade está sendo discutida até nos EUA (aqui no Brasil infelizmente já é algo “normal”), e claro com a sempre ameaça de uma nova ordem mundial batendo em nossas portas. Chris Evans me surpreendeu muito no papel do líder Curtis. O jeito como ele lidera o seu povo, uma alusão clara a Moisés aqui. O diretor coreano Bong Joon-Ho que já tinha mostrado seu comentário sócio-político em O Hospedeiro, aqui novamente mostra um ótimo balanço entre essas dinâmicas. Além de todos estes dilemas sociais, ele consegue mostra muito bem cenas de ação belíssimas. As cenas de combates entre os revolucionários e os soldados gestores são sensacionais. Não é algo totalmente coreografado. Parece algo mais “cru”, violento e desesperador. É uma luta pela sobrevivência. Quando você vê Tanya empunhar um machado e ir para cima de um soldado com toda raiva do mundo é algo realmente espetacular. É uma mãe desesperada procurando seu filho a qualquer custo. E claro, tudo isso em um espaço reduzido, o que traz uma sensação quase claustrofóbica.






Vale destacar também o belíssimo visual do filme. O Snowpiercer é sensacional. Um trem que nunca para, que recolhe gelo em seu caminho e depois transforma em água para os seus usuários é uma grande sacada. Cada vagão tem seu visual. Desde o visual sujo e sombrio dos últimos vagões, passando pelos vagões centrais com estufas, escolas, aquários até os primeiros vagões onde a classe alta vive em Spas de luxo e festas que nunca terminam. O próprio ilustrador da HQ, Jean-Marc Rochette, contribui com alguns visuais usados na produção. Infelizmente o filme ficou preso em uma disputa entre o diretor e o produtor Harvey Weinstein. Harvey queria cortar vinte minutos, mas o diretor se recusou a fazer isso. Harvey atendeu ao pedido, mas reduziu a distribuição do filme no mundo. Aqui mesmo no Brasil, o filme só estreia em Outubro. Mesmo com essa falta de confiança dos produtores, Snowpiercer é um dos grandes filmes do ano. Com influencias de filmes como Soylent Green, Brazil e Children of Men, Snowpierce entra para a lista de grandes filmes sobre futuros pós-apocalípticos e distópicos. Digamos que é um Blocksbuster com um orçamento modesto, mas carregado de ideias. Não tem medo de abordar questões mais polêmicas e sérias. É um Jogos Vorazes com colhões. 





Nenhum comentário:

Postar um comentário