SINTA O COSMO
Vinte anos se passaram e o legado deste anime em nosso país ainda é gigantesco, mas claro, nunca poderíamos saber o quanto aquele desenho (ninguém falava anime na época, e É DESENHO SIM) iria influenciar tanto uma geração. Em 1994 eu ainda dividia uma casa junto dos meus tios e primas. Fabiana era quatro anos mais velha do que eu, com onze anos, e foi a responsável por me viciar em muitos seriados japoneses na época (hoje todo mundo fala Tokusatsu, mas na época era SERIADO JAPONÊS SIM) como Jiraya (não aquele merda do Naruto), Changeman e Jaspion, todos exibidos na Manchete. A gente assistia também muito o Patrulha Estelar na época. Até então esse era o único anime que o público da Manchete tinha visto, mas tudo mudaria no dia primeiro de Setembro de 1994.
Simplesmente o melhor canal da história da TV aberta brasileira |
Uma semana antes de Cavaleiros finalmente estrear a Manchete fez vários comerciais sobre o anime deixando a galera curiosa. Era um evento que não poderia ser perdido, mas nem tudo era fácil naquela época. Minha outra prima, Adriana, era a “menor” da casa, portanto na maioria das vezes tinha os seus desejos atendidos. E justamente no dia da estreia do desenho ela cismou que queria ver o AS AVENTURAS DE BABAR na TV Cultura (Eu até gostava desse desenho mas foda-se né? ERA DIA DE CAVALEIROS). É claro que eu e a Fabiana ficamos putos da vida com ela, já que estávamos esperando esse dia como nunca. E como toda criança pequena faz, Adriana começou a chorar e não deixava a gente mudar de canal. Com muito custo conseguimos convencer ela deixar a gente ver o desenho (minha memória me falha agora para lembrar como fizemos isso, mas acho que foi com alguma boa e velha “chantagem infantil” da época), e nossa... Nada foi igual depois daquele dia.
O primeiro episódio dava uma rápida introdução de quem eram os cavaleiros de Atena, e de que um torneio entre eles estava rolando no Japão. E logo somos apresentados a Seiya em sua prova final para ganhar a sagrada armadura de Pégaso. Treinado pela amazona Marin, ele deve ganhar de Cassius, um gigante para ninguém botar defeito, treinado por outra amazona chamada Shina. Logo nessa primeira batalha o anime já mostrava que seria bem diferente. A nossa única base de desenho de aventura na época era Tartarugas Ninjas, Thundercats ou He-Man, e nenhum desenho desses tinha um pingo de sangue. E logo na primeira luta de cavaleiros do zodíaco uma ORELHA ERA DECEPADA! Pense bem em nosso choque, a gente só tinha visto desenhos inocentes até aquele dia, e do nada uma orelha era decepada às 18h15 da tarde. O sangue jorrava pelo corpo de Cassius. Lembro que olhei para minha prima e ela também não acreditava naquilo. E com toda a minha inocência infantil da época, disse:
“NOSSA, O SEIYA CORTOU A ORELHA DO GIGANTE? ESSE DESENHO VAI SER LEGAL”
Até a minha prima menor que estava enchendo o saco pela porra do Babar gostou daquilo. Era o fim da inocência nos desenhos. Era uma época pós-ditadura e a TV brasileira vivia um momento no mínimo “mágico” e muito liberal. O país tinha passado muito tempo controlado e reprimido, e muita coisa após aquilo passava batido na TV naquela época. Hoje isso nunca seria exibido na TV aberta neste horário (Mesmo com um noticiário policial sendo mil vezes pior do que isso, mas é assunto para outro post), mas aquele tempo era tudo mais liberado. Cavaleiros foi um dos desenhos mais violentos que eu já vi. Eu me lembro daquele episódio onde o Ikki mata um cavaleiro de prata Capella que usava discos para cortar seus adversários. Usando o seu golpe de ilusão, Ikki faz com que o cavaleiro de prata use o disco contra ele mesmo. O cara tem as duas mãos decepadas e tem uma morte traumática.
Mas não era só a violência que chamava atenção no desenho, tínhamos também grandes personagens também. Eu gostava de todos os cinco principais (Até o viadinho do Shun tinha seus momentos legais de vez em quando), mas o meu preferido sempre foi o Seiya. E se tem um personagem que eu realmente fui Fanboy na minha infância foi ele. Sua amizade com os outros cavaleiros e seu altruísmo sempre me cativou. Um cara que nunca desistia. Aliás, esses temas clássicos (amizade, perseverança, etc) formaram o caráter de boa parte desta geração. Outra parada que me marcou na época foi o fim do torneio galático. Eu era a única pessoa do mundo que realmente achava que aquele torneiro teria um fim, e fiquei esperando a luta entre Seiya e Jabu que nunca aconteceu. PORRA, IKKI! E com a chegada da Saga das 12 Casas e seus cavaleiros de ouro (a melhor saga do anime), todo mundo se envolveu ainda mais com o desenho. Todo mundo queria ver o seu signo no desenho, e esperava que seu cavaleiro fosse foda. Só lamento para quem era de Peixes nessa época. Ainda teve a Saga de Asgard que tinha armaduras fodas e o encerramento com Poseidon. Anos depois, o Sr. Kurumada resolveu produzir a Saga de HADES que foi uma grande febre também, já com o boom de sites de download de animes aqui no Brasil. Pena que o encerramento foi péssimo e porcamente animado. A série ainda gerou um bom Spin-off contando a primeira batalha contra Hades e um péssimo "pseudo reboot/Remake/continuação" chamado Ômega. Este último anime eu não consegui passar do segundo episódio, tamanho era o meu desgosto com tudo aquilo.
"Mas isso é uma Bichona" |
Com o passar dos episódios, o mania foi crescendo. Tinha produto de tudo com os cavaleiros. Bonés no Bob’s, balas com figurinhas e claro, os bonecos. ERA IMPOSSÍVEL comprar um Seiya naquela época, mas tive muita sorte de achar um logo no começo. Agradeço a minha mãe até hoje por aquele boneco do Seiya. Pena que perdi todas as peças da armadura. Cavaleiros do Zodíaco também aumentou interesse sobre a cultura de animes e mangás no país. Pode se dizer que a história desse segmento pode ser dividia como AC e DC aqui no Brasil: ANTES E DEPOIS DE CAVALEIROS. Até a cobertura sobre esse tipo de produto surgiu na época. Se hoje temos vários sites sobre cultura pop e nerd (inclusive essa merda de blog aqui), vieram todos na esteira da finada revista HERÓI dos anos noventa. Eu e minha prima comprávamos religiosamente aquela revistinha que sempre tinha alguma informação sobre cavaleiros. O foda era que a Manchete repetia muito os episódios, e a revista sempre vinha com algum Spoiler de algo que ainda não tinha sido exibido. Era tipo a REVISTA CONTIGO nerd da época.
Quase tive um treco quando vi isso na banca de jornal o.O |
É engraçado ver que muita gente ainda é influenciada por esse anime. Tem gente que começou carreira por causa dele. Autores, jornalistas, professores de desenho, animadores, etc. Uma obra influente em nossa história. Redefiniu conceitos, mudou e criou novos mercados aqui. Se hoje você vai até uma banca de jornal e vê trocentos mangás é por causa de cavaleiros de zodíaco e sua febre nos anos noventa. Se nesse ano vamos ter duas convenções de cultura pop no país, é por causa de cavaleiros que criou um interesse lá nos anos noventa, formando uma cultura de fãs de anime que depois criaram os seus próprios eventos, levando até o momento que vivemos hoje. Vinte anos se passaram, mas o cosmo desses personagens ainda queima, e sua influência ainda e sempre será grande em nossas vidas. VIVA AOS CAVALEIROS DE ATENA!
Nenhum comentário:
Postar um comentário