Há muito tempo, numa galáxia
muito, muito distante, houve um herói, prometido para trazer equilíbrio à uma
poderosa Força que une o universo, mas ele se perdeu no Lado Negro e
transformou-se em um vilão icônico, que caminhava sob uma música de marcha
imperial tão poderosa quanto ele e seu poder era reconhecido e quase venerado
em todos os cantos do espaço sideral, para quem quer que sua história fosse contada.
Era mais conhecido como Darth
Vader, mas seu nome de nascença era Anakin Skywalker. Como muitos heróis, viveu uma
jornada trágica, onde passou de esperança para centenas de povos a símbolo de
ódio e maldade. Herói épico que era, foi prodígio, lutou bravamente, tornou-se
poderoso, amou, foi enganado e manipulado e cedeu às trevas, só redimindo-se à
beira da morte, nos braços de seu filho.
Numa mistura de samurai com Aquiles, usou sua espada, e a sujou de sangue, em nome do que achava certo e justo, mesmo quando teve que lutar uma guerra que não era sua, vestindo uma armadura negra e imponente, servindo ao seu mestre, ao seu clã.
Sem pai, nasceu em uma terra
pobre a esquecida, e foi concebido imaculadamente pela convergência
das forças que regem o universo, tal como um Jesus intergaláctico. Escravo
junto de sua mãe, mostrou habilidades incríveis para um humano, construindo e
reparando coisas, equipamentos, máquinas. Sedento por justiça, prometeu ainda
criança, libertar todos os escravos da Galáxia. Sua ingenuidade infantil o fez
encantar-se com uma bela rainha, tal como todo herói, e a participar de uma
trama macabra tecida por homens poderosos. Descoberto por um mestre Jedi, foi
levado para a grande metrópole, deixando a vida comum para trás, e apresentado
a outros grandes e poderosos mestres.
O pequeno Anakin, puro e
destemido, fora dito como messias de uma profecia revelada – ou criada – pelos
homens de religião, que há tempos deixaram de confiar meramente na fé para
requerer à ciência e à hierarquia para manterem-se unidos e sistemáticos e
acabou sendo seduzido pelas palavras dos adultos. Ficou encantado com a bondade
e beleza de uma rainha guerreira, ocupada no objetivo de salvar seu povo, que
passava fome em função das armações políticas de uma República envelhecida e
corrupta. Jogos políticos são alheios ao jovem Anakin, que apenas diverte-se,
empolgado por fazer parte daquela aventura. Mesmo assim, sua alma heroica
revela-se, ao destruir a poderosa nave de controle dos androides, em guerra no
planeta Naboo.
Os homens fazem seus jogos de
adultos, mas é a avidez infantil de uma criança prodígio que encerra a batalha
e salva vidas.
O destinado herói passa a ser
treinado para tornar-se o maior de todos os guerreiros, o maior cavaleiro Jedi
de todos. Adolescente, confiante, destemido, irresponsável como todo jovem
aprendiz, ele usa seu juramento de defender a República a todo custo como
desculpa para se divertir em aventuras cheias de adrenalina e ainda ficar perto
de sua amada Rainha. Não há recusa ao chamado, aparentemente... Mentira! A
recusa é ao chamado do Lado Negro, e seu mentor não é quem o aceita para guia-lo,
mas aquele que se aproxima para conquista-lo. Tal como Neo em Matrix, seu
destino trágico já está escrito e o pior que o herói Anakin pode fazer é ceder
aos encantos do amor pela sua Rainha Amidala, também chamada de Padmé.
Enquanto os homens comuns
mergulham num intrincado jogo político e se complicam com suas regras, enquanto
um exército de clones se levanta e uma sombra se arrasta pelo Senado da
República, Anakin só quer ficar ao lado do seu amor... Mas seus momentos de
alegria e felicidade são interrompidos pelos sonhos que, como nas histórias de
grandes heróis mitológicos, o chamam para longe, revelando que alguém que ama
está em perigo. No desespero para salvar sua mãe, quebra regras, desobedece
ordens, e parte ao resgaste de uma causa perdida. Sua mãe morre, seu coração
chora, e Anakin se entrega ao ódio e sede de justiça! Mata sem perdão toda a
tribo dos sequestradores de sua mãe. Aqui, mais do que pura vingança, o que
vemos é o momento de revelação do destino desse herói trágico e ingênuo: como
Cândido de Voltaire, ele só quer justiça, ficar ao lado das pessoas que ama...
Como a fagulha daqueles que se tornam grandes ditadores ou aqueles que seguem
ditadores, Anakin tem convicção e que os homens são falhos e corruptos, fracos
e suscetíveis, e que seu papel como salvador, é impor ordem, expurgar o mal.
Anakin se casa com sua Rainha às
escuras, escondido dos homens a que serve, pois sabe que seu desejo pode não
ser o correto, pode ter consequências desastrosas para sua destinada jornada de
herói trágico salvador do universo. Antes disso, perde um braço em luta ao lado de seu
atual mestre Jedi, contra um lorde Sith. É a semente que faltava para perceber
que nunca será forte o bastante como Jedi – ledo engano, comum aos adolescentes
- e que o grande poder pode residir nas
mãos dos Sith.
Convencido de que é o prometido,
o escolhido para salvar o universo, Anakin torna-se o “melhor piloto da
galáxia”, e seguem-se seus desafios e testes em meio às Guerras Clônicas. Enfrenta
seu primeiro limiar contra uma jovem candidata a Sith, enquanto cada vez mais
se aproxima de sua caverna escura, de seu interior negro, até culminar em seu
momento espiritual, onde seu destino como “Mão-fantasma” se revela. No planeta
Nelvaan, longe das distrações tecnológicas, tem contato com os primitivos
guerreiros nativos e, como numa forma de recado para os Jedi que parecem ter
esquecido de sua essência, Anakin delira com seu destino: sua vontade de salvar
o universo o trairá e libertará seu lado negro e, de uma forma quase
desastrada, sua intenção de ajudar causará o mal de várias pessoas!
Com a promessa de descobrir como
usar seu enorme poder para salvar sua rainha e restaurar a ordem no caos que
ficou e por fim à guerra, Anakin torna-se um fantoche nas mãos de seu mestre Sith. O herói
se entrega à alcunha de vilão, ajudando a exterminar os Jedi e enfrentando seu
antigo mestre. O garoto Anakin, ingênuo, manipulado, enraivece diante da
confusão mental em que foi metido, dá ouvidos à ira, e se perde na caverna
escura. Morre, e renasce como Darth Vader, o símbolo da escuridão e do mal que
quer impor ordem no universo, ao lado do Imperador.
A escuridão consome sua alma como
o fogo que consome seu corpo e o herói mitológico passa a viver o resto de sua
vida enclausurado em sua armadura, com ajuda das máquinas. É levado a acreditar
que matou seu amor, sua rainha, e decide fazer o que não fez como Jedi: abdicar
de tudo para dedicar-se à causa que acredita, servindo ao seu novo mestre e ao novo
Império Galáctico.
Mal sabe ele que Padmé gerou não
um, mais dois filhos, e que eles foram levados, escondidos de seu pai, para não
serem corrompidos, ou mortos pela cegueira de Darth Vader.
Verdade seja dita que, o herói
prometido para trazer equilíbrio à Força, para salvar o universo, foi posto de
lado entre tramas dos homens comuns, tratado apenas como instrumento para fins
alheios e então, deixou de ser herói para tornar-se vilão aos olhos dos
Rebeldes. Perseguindo aqueles que queriam destruir a rígida ordem imposta pelo
Império, faz com que seja chamado de volta a essa epopeia seu antigo mestre,
como um pai chamado à escola para corrigir e repreender o filho descontrolado.
Obi-Wan Kenobi traz consigo Luke
Skywalker, a nova esperança da Galáxia, que luta ao lado da princesa Leia, todos contra Darth Vader e seu “império do mal”. Luke destrói o grande terror tecnológico do Império, e Darth Vader passa a cassá-lo pela galáxia. Afinal,
quem ousa substitui-lo como herói de todos os povos? Vader ainda não sabe, mas
esses dois heróis rebeldes são seus filhos perdidos, que carregam seu sangue e sua herança heroica.
Depois de armar uma emboscada,
Vader finalmente consegue confrontar Luke. Mas sua entrega ao Lado Negro e sua
máscara de vilão são questionadas, quando ele revela sentir que Luke é seu
filho e pede para que ele lute ao seu lado. Luke é jovem como Vader foi, não
entende a verdadeira causa do pai, e renega sua herança. Escapa de Vader junto
com Leia, e sonha poder salvar o pai, como o pai já sonhou em salvar o
universo.
Depois de treinar com o mestre
Jedi Yoda, e salvar seus amigos, Luke quer salvar seu pai, resgatar a bondade dentro dele e
transforma-lo novamente em herói. Mas Vader está acompanhado pelo Imperador, que o controla com suas cordas e tenta persuadir Luke a aderir ao Lado Negro, enquanto seus
amigos metem-se em outra emboscada. Vader está cansado. Fisicamente destruído,
seu corpo luta com as máquinas de sua armadura para mantê-lo em pé. Mas ele também
está cansado desse jogo dos homens. Não tem mais tanta confiança que esse Imperador
pode melhorar a galáxia, mas o serve, acomodado como um adulto velho, que já
desistiu de lutar e já não mais carrega a sina de tornar-se um herói. Vader é o
que temos medo de nos tornar, caso não consigamos ser heróis ainda jovens: um
adulto desiludido, que apenas sobrevive dia após dia, seguindo ordens de alguém
acima dele.
Mas tudo pode mudar. Ele agora sabe da existência de sua filha, que ainda luta para transformar a galáxia num lugar
melhor, mesmo apaixonada, sem precisar escolher entre o amor e a causa. Vê seu filho
resistindo e lutando contra o Imperador, sofrendo pelas suas consequências.
Darth Vader, um nome dado por um homem seguidor de uma seita, ainda é Anakin
Skywalker, herói concebido de forma imaculada, prometido para trazer paz à
galáxia. E, ao lembrar-se disso, salva seu filho, destruindo o Imperador. Mais
que isso, acaba por finalmente destruir o Império, pondo fim à trama iniciada
pelo lorde Sith desde antes do começo dessa história.
Talvez Anakin realmente tenha
sido enviado para ser o herói mandado pelos deuses, já que o mal já estava se
preparando para se impor, antes mesmo de sua chegada. Talvez o sofrimento que
toda essa trama trouxe, assim como aqueles causados pelo próprio Anakin/Vader,
tenham vindo para relembrar aos seres da galáxia sobre coisas que eles tinham
esquecido antes das Guerras Clônicas, quando a tecnologia, a política e uma
religião rígida reinava em suas vidas.
Anakin morre como herói, nos braços se seu filho, cumprindo a missão a que foi destinado: libertar os escravos da
galáxia. Escravos não só de uma ditadura, mas de si mesmos e de um mundo todo
encoberto por um aparente progresso.
Talvez tudo isso seja apenas um delírio
desse que vos escreve... Mas o que importa é que a jornada heroica de Anakin
Skywalker será sempre lembrada como um modelo de jornada do herói diferente da
que costumamos ver, pois a alma humana é muito mais sóbria e corruptível do que
tecem os narradores de aventuras perfeitas. Esse Jesus não resistiu à tentação,
mas redimiu-se, aceitando o inevitável que Neo tanto quis evitar: os heróis
trágicos, mártires, aqueles que realmente valem a pena, sempre devem morrer no
final, para assim cumprir sua jornada.
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