"I want the worst guys you've got"
Too Old to Die Young (Muito Velho para Morrer Jovem) é o novo projeto do renomado diretor Nicolas Winding Refn (Drive e Demônio de Neon) e o escritor Ed Brubaker, autor de vários livros policiais e HQs pela Marvel, DC e Vertigo. Lançada pela Amazon Prime, é uma produção com TREZE HORAS de duração, dividida em dez episódios. Mesmo sendo tratada “oficialmente” como uma minissérie, não temos nada de TV convencional nisto.
Resumir a trama aqui é um verdadeiro desafio, já que ela segue para um caminho totalmente diferente do que é proposto logo no primeiro episódio, mas podemos dizer que tudo começa com o personagem de Milles Teller, o policial Martin Jones e seu parceiro Larry (Lance Gross). Larry é aquele típico policial com “vida dupla” questionável e métodos pouco ortodoxos em seu trabalho. Esse estilo de vida acaba tirando sua vida. Jesus (Augusto Aguilera), um membro de um cartel mexicano acaba se vingando da morte de sua mãe em cima do policial. Na investigação do caso, Martin acaba mentindo sobre o que aconteceu e isso acaba o promovendo para investigador. Isso acaba colocando Martin em uma intricada trama envolvendo o cartel mexicano, uma gangue rival que tinha Larry como um dos seus associados e justiceiros com agendas "nobres". E no meio de tudo isso ele ainda precisa se resolver com sua namorada, Janey (Nell Tiger Free), um adolescente de dezessete anos e seu sogro maluco, Theo (William Baldwin). É seguro dizer que a temática da minissérie gira em torno da dualidade de todos os personagens. Todos exibem duas facetas. Uma é a perfeita, seja para a sociedade ou para alguém próxima. Outra é com certeza mais sombria e perturbadora. Como um dos personagens diz:
"Quanto mais a sociedade se torna perfeita, mais ela se torna psicótica!"
Martin AKA "Protagonista silencioso de todas as produções do NWR" |
Com o decorrer da trama somos apresentados aos mais variados personagens. O maior destaque sem dúvida vai para Jesus e Yaritza (Cristina Rodlo). O casal apresenta a dinâmica mais bizarra já vista em alguma história sobre traficantes de drogas. O relacionamento e suas motivações são totalmente bizarras e extrapolam qualquer senso de normalidade, mesmo para criminosos. É como vocês estivesse vendo NARCOS, mas feito pelo Jodorowsky, pelo David Lynch ou por Jean-Pierre Melville. Diana (Jena Malone) e Viggo (John Hawkes) são outros personagens desta minissérie que carregam bastante mistério. Talvez o maior de toda a história. Até agora estou tentando processar o que eu vi. É realmente isso mesmo o que eu entendi? E se for, podemos dizer que isso é um tipo de Twin Peaks mais doido que o original?
Yaritza e Jesus: Aquele relacionamento saudável envolvendo um BDSM e um "incesto que não é incesto" |
Brubaker e Refn conseguem misturar seus estilos muito bem aqui. Uma trama carregada com críticas políticas, em uma abordagem Neo-Noir surrealista. É incrível a liberdade dada aos dois criadores da minissérie, já que não temos nenhum tipo de censura. Seja ela na história ou na própria direção, Refn realmente testa os limites do telespectador aqui. Os episódios variam no tempo de duração. Vão de uma hora e meia ou quase uma e quarenta, ou apenas trinta minutos. O estilo surreal – e muitas vezes Kitsch – de Refn é elevado aqui até a sua máxima potência. A violência, o gore, o humor negro e a hipersexualização são muito bem explorados em todos os episódios, em um ritmo lento e quase sonolento. A sensação é que você está vivendo em outra realidade ou em sonho maluco onde tudo anda em câmera lenta.
É impressionante como todos os episódios tem cenas com planos bem pensados e fora do padrão televisivo. Grandes séries como Breaking Bad e Better Call Saul apresentam esse tipo de direção, mas em algum momento os episódios apresentam algum plano mais básico de TV. Seja um plano americano ou corte simples com dois personagens conversando, por exemplo. Aqui o Refn realmente fez algo diferente. Seja nesses momentos entre dois personagens ou em tomadas em espaços abertos, a ordem foi sempre pensar em algo diferente. A câmera que gira lentamente da esquerda para a direita e vice-versa é outra assinatura visual bastante presente em todos os episódios. A iluminação também é bastante explorada não só nas cenas noturnas com o Neon, mas em espaços fechados e durante o dia. O oitavo episódio tem cenas belíssimas dentro um estábulo. Tudo isso é embalado com mais uma competente trilha sonora do já conhecido compositor Cliff Martinez. A minha única crítica é com o PÉSSIMO lançamento deste trabalho nas plataformas digitais. Não sei o que aconteceu, mas existe várias faixas que ficaram fora do lançamento. Não sei se terá uma segunda parte para ser lançada, mas por enquanto é uma grande bola fora dos produtores.
Too Old to Die Young não é uma produção fácil de ser assimilada. Não é TV, e sim um grande filme de treze horas. Algo que também não pode ser apreciado em uma sessão de cinema. Portanto temos um híbrido bastante interessante aqui. Como o próprio Refn disse em Cannes; A TV está morta! Ninguém assiste mais ela de forma convencional. O público já se acostumou em assistir “em pedaços”. Refn então não se preocupa em obedecer às estruturas narrativas desta mídia, mas sim em desenvolver o seu mundo bizarro no seu próprio ritmo. Sem limitações de tempo da TV e do Cinema convencional. Poucas vezes um diretor teve tanta liberdade de produzir a sua visão em uma plataforma mainstream. Acho que só o David Lynch com a terceira temporada de Twin Peaks teve este tratamento, mas mesmo assim era algo já consolidado com o grande público. Too Old é um animal totalmente diferente e nasce destinado a virar cult no futuro. Não querendo soar pretensioso ou como um desses hipsters “tênis verde da Rua Augusta”, mas esta minissérie não é para todo mundo. Aliás, acho que todos esses hipsters aguentariam ver ela, então eu recomendo muita paciência e calma. Vai vendo ela aos poucos como eu fiz e depois faça o seu julgamento. Estou ansioso para ver projetos futuros do Nicolas Winding Refn. Espero que ele produza mais materiais corajosos como este.
NOTA: 10
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