O espaço, a
fronteira final. Marte, a nova moda da ficção científica. Matt Damon, o
astronauta fodão que fica preso no planeta vermelho por quase 2 anos, usando
todo seu conhecimento para manter-se vivo até que a NASA possa resgatá-lo, audaciosamente
nos fazendo acreditar que é possível sobreviver num lugar onde nenhum homem
jamais esteve.
Você pode começar a assistir ao filme e pensar que viu algo parecido no ano passado, quando Gravidade ganhou elogios de crítica e público ao contar a história de uma astronauta sozinha no espaço, que tem que se virar para sobreviver e voltar para a Terra. Só que aqui, temos Matt “Jason Bourne” Damon sendo mais de boa em Marte que Tom Hanks numa ilha deserta. E por ser Matt Damon, a NASA fará de tudo e gastará toda a verba do governo para resgatá-lo, enquanto o mundo para e torce por ele! Afinal, até o próprio Tom Hanks já arriscou sua bunda e a de toda sua tropa para salvá-lo! É o Matt Damon!
O filme é bom e
tem momentos bacanas, como quando o astronauta cria uma espécie de estufa para
plantar batatas ou quando usa uma sonda antiga para se comunicar com a NASA,
além de momentos tensos quando a entrada do hub onde ele está explode, ou a
sequência do resgate em si, feito pelos seus “amigos”, que voltam para buscá-lo.
Mas ao final de tudo, a sensação é de ter assistido a um filme de Sessão da
Tarde, ou de domingo após o almoço, sabe? Não é à toa que o filme ganhou Globo
de Ouro por comédia/musical, já que há momentos engraçados no filme e até o
Matt Damon é um piadista (no estilo Michael Scott, se achando mais engraçado do
que ele é de verdade), o que mantém o espectador com os olhos na tela, num
roteiro já bem manjado e previsível. Também tem música dos anos 70, da era
Disco.
Ridley Scott
manda bem, direção competente, mas longe de se igualar às suas obras-primas
Blade Runner e Alien. Eu diria que está a nível de Até o Limite da Honra... O
roteiro é bacana, mas como disse, previsível. Confesso que (preconceito meu,
desculpem-me), quando descobri que o escritor do livro que deu origem ao filme,
Andy Weir, é um engenheiro de software entusiasta de coisas do espaço e que
esse é seu primeiro livro, o pensamento que tive foi: “faz sentido”. O que o
filme tem de melhor é sua fotografia, uma direção de arte competente, sem
exageros nem calcada num CGI estranho aos olhos. Além, claro, do carisma e
diálogos (com o público) de Matt Damon (para quem gosta do ator). Aliás, legal
a saída de quebrar a quarta parede para que o filme não ficasse monótono, de
uma maneira inteligente: Matt fala para às câmeras da NASA que registram sua
presença no local. Interpretação sem nada demais, que faz você pensar por que
raios o ator foi indicado ao Oscar desse ano!
Claro que o
filme tem elementos científicos com bom embasamento real, mas também dá furos e
muita coisa é difícil de acreditar para quem gosta ou conhece um pouco de
física. Não é um filme recomendado se você é fã ardoroso de Cosmos! Vai achar
muita marmelada em algumas cenas. Mas, como eu disse, é um filme para entreter numa
tarde de domingo com a família, nada mais. Sem pretensões de ser um clássico da
ficção científica e sobreviver aos anos...
Porém, o que
mais me incomodou de verdade foram duas coisas: primeiro, uma que o Sérgio,
titular desse blog disse sobre o personagem não ter abalos psicológicos. Você
pode ser o astronauta mais fodão do espaço, mas cara, você está sozinho em
Marte, com a comida contada e sem esperança de resgate! Nesse ponto, Gravidade
e Náufrago se deram ao menos o trabalho de pensar sobre isso. Matt Damon é um
cara sempre de boa, nunca se abala. Talvez seja isso que irrite tanto seus
colegas de exploração que ficam com a consciência pesada e voltam para
resgatá-lo.
Outra coisa que
fez eu me mexer da cadeira foi todo o empenho em salvar o cara. Não só a NASA e
seus supercientistas e superengenheiros pararam tudo que estavam fazendo para
pensar em como trazer Matt Damon de volta para a Terra, como até a China
resolve ficar boazinha (porque aos olhos dos americanos ela é tanto do mal
quanto era a extinta URSS) e aproveitar para ajudar e assim conseguir acordos
diplomáticos e publicidade (ah, essa China comunista-capitalista, os
“socialistas modernos” devem ter adorado)! E claro, o mundo, O MUNDO, para tudo
e fica na expectativa do resgate!
Enfim, é um filme
de propaganda da NASA e da cultura do sonho americano, para todo mundo querer
ser americano e astronauta (o finalzinho deixa isso bem claro), achando que é a
coisa mais cool do mundo e que o governo dos EUA deve continuar injetando
bilhões de dólares em programas espaciais e que devemos, sim, dar um jeito de
pisarmos no planeta vermelho.
Quanto às
indicações ao Oscar 2016, eu acredito que talvez leve alguma estatueta pelos prêmios
técnicos, se tiver sorte.
;)
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