sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

PERDIDO EM MARTE


O espaço, a fronteira final. Marte, a nova moda da ficção científica. Matt Damon, o astronauta fodão que fica preso no planeta vermelho por quase 2 anos, usando todo seu conhecimento para manter-se vivo até que a NASA possa resgatá-lo, audaciosamente nos fazendo acreditar que é possível sobreviver num lugar onde nenhum homem jamais esteve.

Você pode começar a assistir ao filme e pensar que viu algo parecido no ano passado, quando Gravidade ganhou elogios de crítica e público ao contar a história de uma astronauta sozinha no espaço, que tem que se virar para sobreviver e voltar para a Terra. Só que aqui, temos Matt “Jason Bourne” Damon sendo mais de boa em Marte que Tom Hanks numa ilha deserta. E por ser Matt Damon, a NASA fará de tudo e gastará toda a verba do governo para resgatá-lo, enquanto o mundo para e torce por ele! Afinal, até o próprio Tom Hanks já arriscou sua bunda e a de toda sua tropa para salvá-lo! É o Matt Damon!


O filme é bom e tem momentos bacanas, como quando o astronauta cria uma espécie de estufa para plantar batatas ou quando usa uma sonda antiga para se comunicar com a NASA, além de momentos tensos quando a entrada do hub onde ele está explode, ou a sequência do resgate em si, feito pelos seus “amigos”, que voltam para buscá-lo. Mas ao final de tudo, a sensação é de ter assistido a um filme de Sessão da Tarde, ou de domingo após o almoço, sabe? Não é à toa que o filme ganhou Globo de Ouro por comédia/musical, já que há momentos engraçados no filme e até o Matt Damon é um piadista (no estilo Michael Scott, se achando mais engraçado do que ele é de verdade), o que mantém o espectador com os olhos na tela, num roteiro já bem manjado e previsível. Também tem música dos anos 70, da era Disco.

Ridley Scott manda bem, direção competente, mas longe de se igualar às suas obras-primas Blade Runner e Alien. Eu diria que está a nível de Até o Limite da Honra... O roteiro é bacana, mas como disse, previsível. Confesso que (preconceito meu, desculpem-me), quando descobri que o escritor do livro que deu origem ao filme, Andy Weir, é um engenheiro de software entusiasta de coisas do espaço e que esse é seu primeiro livro, o pensamento que tive foi: “faz sentido”. O que o filme tem de melhor é sua fotografia, uma direção de arte competente, sem exageros nem calcada num CGI estranho aos olhos. Além, claro, do carisma e diálogos (com o público) de Matt Damon (para quem gosta do ator). Aliás, legal a saída de quebrar a quarta parede para que o filme não ficasse monótono, de uma maneira inteligente: Matt fala para às câmeras da NASA que registram sua presença no local. Interpretação sem nada demais, que faz você pensar por que raios o ator foi indicado ao Oscar desse ano!

Claro que o filme tem elementos científicos com bom embasamento real, mas também dá furos e muita coisa é difícil de acreditar para quem gosta ou conhece um pouco de física. Não é um filme recomendado se você é fã ardoroso de Cosmos! Vai achar muita marmelada em algumas cenas. Mas, como eu disse, é um filme para entreter numa tarde de domingo com a família, nada mais. Sem pretensões de ser um clássico da ficção científica e sobreviver aos anos...


Porém, o que mais me incomodou de verdade foram duas coisas: primeiro, uma que o Sérgio, titular desse blog disse sobre o personagem não ter abalos psicológicos. Você pode ser o astronauta mais fodão do espaço, mas cara, você está sozinho em Marte, com a comida contada e sem esperança de resgate! Nesse ponto, Gravidade e Náufrago se deram ao menos o trabalho de pensar sobre isso. Matt Damon é um cara sempre de boa, nunca se abala. Talvez seja isso que irrite tanto seus colegas de exploração que ficam com a consciência pesada e voltam para resgatá-lo.

Outra coisa que fez eu me mexer da cadeira foi todo o empenho em salvar o cara. Não só a NASA e seus supercientistas e superengenheiros pararam tudo que estavam fazendo para pensar em como trazer Matt Damon de volta para a Terra, como até a China resolve ficar boazinha (porque aos olhos dos americanos ela é tanto do mal quanto era a extinta URSS) e aproveitar para ajudar e assim conseguir acordos diplomáticos e publicidade (ah, essa China comunista-capitalista, os “socialistas modernos” devem ter adorado)! E claro, o mundo, O MUNDO, para tudo e fica na expectativa do resgate!

Enfim, é um filme de propaganda da NASA e da cultura do sonho americano, para todo mundo querer ser americano e astronauta (o finalzinho deixa isso bem claro), achando que é a coisa mais cool do mundo e que o governo dos EUA deve continuar injetando bilhões de dólares em programas espaciais e que devemos, sim, dar um jeito de pisarmos no planeta vermelho.


Quanto às indicações ao Oscar 2016, eu acredito que talvez leve alguma estatueta pelos prêmios técnicos, se tiver sorte.

;)

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