sexta-feira, 29 de abril de 2016

CRÍTICA – Snoopy & Charlie Bown, O Bom Dinoussauro e Zootopia

Assisti ao três filmes e duas perguntas ficaram na minha cabeça: por que do desenho do Snoopy não foi indicado ao Oscar desse ano e será que desaprenderam como fazer animações para crianças? o.O


O Bom Dinossauro

Vou começar com o da Pixar que, confesso, deixou a desejar e me incomodou em alguns aspectos (como sempre, rs). É um filme fraco, de um tema para mim já mais que batido e que trata tudo de uma maneira ora inocente demais, ora incômoda.


Bem, imagine se o asteroide que extinguiu os dinossauros tivesse “errado” a Terra... Como teria sido conviver com a existência deles em nossa pré-história? Aqui, um tema interessante foi tratado de forma preguiçosa: os dinossauros, apesar de não terem se desenvolvido fisicamente, falam como nós, constroem abrigos para si, estocam comida e, pasmem, plantam! Em uma dino-fazenda, Arlo, o mais novo e menor de seus três irmãos, é um dinossauro bastante medroso e um tanto quanto desajeitado. Quando não consegue cumprir a tarefa que seu pai lhe deu de pegar o ladrão da comida (uma criança humana) vem um baque dramático e as coisas ficam ainda mais difíceis. Pior: Arlo é levado pelo rio e se perde de sua família! Começa então a velha jornada de voltar para casa, enquanto o dinossauro acaba criando uma relação afetiva com a criança humana. Durante o caminho, sua coragem e coração serão postos à prova, claro.

Já seria um roteiro bem manjado e batido (além da “volta para casa”, bem comum em animações infantis, outros desenhos de dinossauros já tiveram ideia parecida, como Em Busca do Vale Encantado, de 1988), não fosse ainda a maneira como a história é tratada. É um filme infantil, mas com quase nenhuma cena cômica, ação lenta e chata para muitas crianças, e uma carga dramática muito grande para as crianças menores e mais ingênuas, que poderiam ter algum interesse no filme. Parece uma animação do Discovery Kids, para crianças de menos de 5 anos, mas não cativa nem alguém de 50!

Apesar de uma visual de encher os olhos com lindos cenários (que não combinam com os personagens animados) e algumas cenas que podem tirar lágrimas de algumas pessoas com coração mais mole, no geral me pareceu um desenho meio chato e meio preguiçoso. Mas o que me incomodou mesmo (além do lance dos dinossauros serem “humanizados”) foi a caracterização dos humanos, que aqui se tornaram “pets” dos dinos (a criança humana leva nome de Spot, nome de cachorro). Os seres humanos, cheiram como cachorro, uivam, se comportam como caninos, mesmo sendo mamíferos iguaizinhos a nós (não tem diferença física).

Mais um motivo para o desenho não colar: quem vai se identificar com um dinossauro medroso que tem um ser humano como cachorro? Sorry, Pixar, esse vai se juntar aos seus fracassos e, digo mais, é o mais fraco de todos os desenhos fracos da Pixar, ganhando de Vida de Inseto e Carros 2! O jeito é esperar pelo Procurando Dory, a estrear em junho...

Nota: 3 melões (de 10) =P


Snoopy & Charlie Brown: Peanuts, o filme

Se O Bom Dinossauro não cativou, o mesmo não aconteceu com a versão CG de Charlie Brown, Snoopy e sua turma... Além de matar saudade de quem era fã dos desenhos do Charlie Brown que passavam no Natal nas TVs brasileiras, o filme diverte e toca o coração de qualquer geração! Como já disse várias vezes, deveria ter sido indicado ao Oscar! Seria um forte concorrente de Divertida Mente!


Com um roteiro simples feito pelos filhos de Charles Schulz, criador dos personagens, e uma direção competente, com boas escolhas e soluções técnicas, o desenho desperta a nostalgia nos mais velhos, que irão adorar o filme. Se você era fã dos desenhos dos anos 60, vai ter que segurar as lágrimas, meu amigo... E as crianças também irão adorar, pois o desenho é fofo, divertido, sem pretensões ou ingenuidade excessiva e o final não decepciona (apesar de considerado muito otimista para alguns fãs ferrenhos do Charlie Brown loser).

A história já é conhecida: Charlie Brown se apaixona pela nova Garotinha Ruiva que chega na escola e na vizinhança e faz de tudo para conquista-la, ajudado pelo seu Beagle excêntrico. Roteiro simples, como anda em falta ultimamente, com espaço para as trapalhadas do protagonista, as fantasias pulp de Snoopy e o brilho de cada um dos personagens da turma, todos perfeitos!

Tive o prazer de estar no painel do filme na última CCXP e lembro bem que o produtor do filme foi ovacionado e ganhou muitos “own” e risos da plateia com os trechos que passou. Foi extremamente aplaudido após vídeo explicando processo de concepção e animação dos personagens, enfatizando o carinho e empenho que a equipe teve para manter o espírito das tiras e dos desenhos antigos. Ficou tão feliz com a animação da plateia que filmou nossa reação no celular para mandar à sua equipe, numa expressão de “conseguimos, nosso trabalho valeu a pena!”. Foi um dos painéis que mais curti, devo confessar.

Um grande acerto da Blue Sky e da Fox, e que merece ser visto e revisto! Espero que passe na TV em todos os natais! =)

Nota: 8 melões! =)


Zootopia – Essa Cidade é o Bicho

Mas o grande campeão dos risos dessa leva de desenhos foi Zootopia! Mesmo que não seja um filme muito pop, ainda assim é também diversão garantida! E, como tenho percebido faz um tempo, pode até ser curtido por crianças, mas faz parte de um grupo de “desenhos para adultos”, que vem crescendo cada vez mais nos últimos 15 anos.


A premissa já dá uma ideia da ousadia da Disney: uma coelha sonha ir para Zootopia, a cidade onde os animais “podem ser o que quiser” e tornar-se uma grande policial. Mas esse é um campo destinado ao animais “predadores”, que sempre tem cargos de liderança ou que exigem mais força e agilidade, e não às presas, animais em maior número, mas que ficam com ocupações de menor importância. Porém, quando alguns animais começam a desaparecer, a coelhinha Judy Hopps se envolve e contará com a ajuda forçada do raposo malandrão Nick Wilde, para resolver a trama policial em até 48 horas.

Não se engane, esse roteiro é só pano de fundo (e até que muito manjado e óbvio – os mais espertos desconfiarão da trama antes do meio do filme), porque o grande lance do filme foi tratar sobre um tema complexo e polêmico de forma lúdica e leve: o preconceito. Usando-se da metáfora antropomórfica que a Disney já conhece há muito tempo, e fazendo um paralelo de uma vida “humana” vivida por animais, nessa fábula tudo é tratado de forma muito criativa e cômica e, sem você perceber, estará se divertindo com um tema que garante muitas discussões.

A coelha Judy sofre preconceito por ser fêmea e presa, numa corporação dominada por predadores machos. E mais: ela quer ser independente e conseguir seu sucesso, não quer ser uma coelha parteira de 200 filhos! Aliás, por ser um desenho da Disney, interessante que a chamada “Regrade Bechdel” talvez possa ser aplicada aqui: Judy não quer saber de romances ou tramas ou papos sobre machos e, quando torna Nick seu parceiro, mesmo que em determinado momento possamos achar que rolará um romance, ele não acontece! Eles são parceiros de trabalho e amigos, apenas. A coelha ainda depende da ajuda de um macho mais “esperto” e malandro para conseguir se virar, mas já é um passo, para um estúdio que construiu por anos a imagem de “garotas princesas”.


O grande lance do filme é, na verdade, sobre o preconceito de raças... Não só de predadores e presas. Por várias vezes é questionada a ideia de “ser o que quiser” e o papel estereotipado de cada animal. Em algumas piadas, as características de cada animal são até ridicularizadas, ou usadas para garantir a risada, mas em outros momentos a natureza de cada um é questionada. Uma das partes sensacionais é a visita ao retiro "nudista" e a reação de Judy.

É um tema que será mais apreciado pelos adultos, que identificarão com mais facilidade as referências e alguns traços de alguns personagens, como uma possível homossexualidade do tigre da recepção do departamento de polícia (mais extrovertido) e do chefe de polícia (mais contido e enrustido). Crianças, como sempre, verão menos do que nós vemos e levarão com mais naturalidade o comportamento dos personagens, talvez aproveitando melhor e absorvendo mais a mensagem de tolerância, respeito ao próximo e à sua natureza. Interessante também que a própria protagonista passa por um momento em que se dá conta de ter gerado uma onda de ódio entre os animais, e tenta resolver a situação (duvido você não fazer comparações com a situação atual do nosso país).

Roubam a cena os bichos-preguiças, que são sensacionais e tem as duas melhores piadas do desenho (aguarde os pós-créditos)! No cinema, arrancou muitos e muitos risos da plateia, como há tempos eu não via, e foi até aplaudido! É o desenho do ano, para mim, até o momento!


Nota: 9 melões! =D


O que fiquei pensando, ao ver esses três desenhos, é que cada vez mais as animações de cinema tem como alvo os adultos, não as crianças. Elas até aproveitam em muitos casos, mas tem histórias e piadas que são feitas para gente grande! É um caminho que os quadrinhos já trilham a muito tempo, mas não com o mesmo sucesso (ainda tem muito fã de Vingadores no cinema que acha quadrinhos coisa de adolescente). Por outro lado, é cada vez mais difícil ver um desenho para crianças, que seja feito para elas, sem que seja mal-feito ou ingênuo demais, ou que caia na forma híbrida para ganhar também os pais.

Algo a se pensar...

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