Assisti ao três filmes e duas
perguntas ficaram na minha cabeça: por que do desenho do Snoopy não foi
indicado ao Oscar desse ano e será que desaprenderam como fazer animações para
crianças? o.O
O Bom Dinossauro
Vou começar com o da Pixar que,
confesso, deixou a desejar e me incomodou em alguns aspectos (como sempre, rs).
É um filme fraco, de um tema para mim já mais que batido e que trata tudo de
uma maneira ora inocente demais, ora incômoda.
Bem, imagine se o asteroide que
extinguiu os dinossauros tivesse “errado” a Terra... Como teria sido conviver
com a existência deles em nossa pré-história? Aqui, um tema interessante foi tratado de
forma preguiçosa: os dinossauros, apesar de não terem se desenvolvido
fisicamente, falam como nós, constroem abrigos para si, estocam comida e, pasmem,
plantam! Em uma dino-fazenda, Arlo, o mais novo e menor de seus três irmãos, é
um dinossauro bastante medroso e um tanto quanto desajeitado. Quando não
consegue cumprir a tarefa que seu pai lhe deu de pegar o ladrão da comida (uma
criança humana) vem um baque dramático e as coisas ficam ainda mais difíceis.
Pior: Arlo é levado pelo rio e se perde de sua família! Começa então a velha
jornada de voltar para casa, enquanto o dinossauro acaba criando uma relação afetiva
com a criança humana. Durante o caminho, sua coragem e coração serão postos à
prova, claro.
Já seria um roteiro bem manjado e
batido (além da “volta para casa”, bem comum em animações infantis, outros
desenhos de dinossauros já tiveram ideia parecida, como Em Busca do Vale
Encantado, de 1988), não fosse ainda a maneira como a história é tratada. É um filme
infantil, mas com quase nenhuma cena cômica, ação lenta e chata para muitas
crianças, e uma carga dramática muito grande para as crianças menores e mais
ingênuas, que poderiam ter algum interesse no filme. Parece uma animação do
Discovery Kids, para crianças de menos de 5 anos, mas não cativa nem alguém de
50!
Apesar de uma visual de encher os olhos com lindos cenários (que não combinam com os personagens animados) e algumas cenas que podem
tirar lágrimas de algumas pessoas com coração mais mole, no geral me pareceu um
desenho meio chato e meio preguiçoso. Mas o que me incomodou mesmo (além do lance
dos dinossauros serem “humanizados”) foi a caracterização dos humanos, que aqui
se tornaram “pets” dos dinos (a criança humana leva nome de Spot, nome de
cachorro). Os seres humanos, cheiram como
cachorro, uivam, se comportam como caninos, mesmo sendo mamíferos iguaizinhos a
nós (não tem diferença física).
Mais um motivo para o desenho não colar: quem
vai se identificar com um dinossauro medroso que tem um ser humano como
cachorro? Sorry, Pixar, esse vai se juntar aos seus fracassos e, digo mais, é o
mais fraco de todos os desenhos fracos da Pixar, ganhando de Vida de Inseto e
Carros 2! O jeito é esperar pelo Procurando Dory, a estrear em junho...
Nota: 3 melões (de 10) =P
Snoopy & Charlie Brown: Peanuts, o filme
Se O Bom Dinossauro não cativou,
o mesmo não aconteceu com a versão CG de Charlie Brown, Snoopy e sua turma...
Além de matar saudade de quem era fã dos desenhos do Charlie Brown que passavam
no Natal nas TVs brasileiras, o filme diverte e toca o coração de qualquer
geração! Como já disse várias vezes, deveria ter sido indicado ao Oscar! Seria
um forte concorrente de Divertida Mente!
Com um roteiro simples feito
pelos filhos de Charles Schulz, criador dos personagens, e uma direção
competente, com boas escolhas e soluções técnicas, o desenho desperta a nostalgia
nos mais velhos, que irão adorar o filme. Se você era fã dos desenhos dos
anos 60, vai ter que segurar as lágrimas, meu amigo... E as crianças também
irão adorar, pois o desenho é fofo, divertido, sem pretensões ou ingenuidade
excessiva e o final não decepciona (apesar de considerado muito otimista para alguns fãs
ferrenhos do Charlie Brown loser).
A história já é conhecida:
Charlie Brown se apaixona pela nova Garotinha Ruiva que chega na escola e na
vizinhança e faz de tudo para conquista-la, ajudado pelo seu Beagle excêntrico.
Roteiro simples, como anda em falta ultimamente, com espaço para as trapalhadas
do protagonista, as fantasias pulp de
Snoopy e o brilho de cada um dos personagens da turma, todos perfeitos!
Tive o prazer de estar no painel
do filme na última CCXP e lembro bem que o produtor do filme foi ovacionado e
ganhou muitos “own” e risos da plateia com os trechos que passou. Foi
extremamente aplaudido após vídeo explicando processo de concepção e animação
dos personagens, enfatizando o carinho e empenho que a equipe teve para manter
o espírito das tiras e dos desenhos antigos. Ficou tão feliz com a animação da
plateia que filmou nossa reação no celular para mandar à sua equipe, numa
expressão de “conseguimos, nosso trabalho valeu a pena!”. Foi um dos painéis que
mais curti, devo confessar.
Um grande acerto da Blue Sky e da
Fox, e que merece ser visto e revisto! Espero que passe na TV em todos os
natais! =)
Nota: 8 melões! =)
Zootopia – Essa Cidade é o Bicho
Mas o grande campeão dos risos dessa
leva de desenhos foi Zootopia! Mesmo que não seja um filme muito pop, ainda assim
é também diversão garantida! E, como tenho percebido faz um tempo, pode até ser
curtido por crianças, mas faz parte de um grupo de “desenhos para adultos”, que
vem crescendo cada vez mais nos últimos 15 anos.
A premissa já dá uma ideia da
ousadia da Disney: uma coelha sonha ir para Zootopia, a cidade onde os animais “podem
ser o que quiser” e tornar-se uma grande policial. Mas esse é um campo
destinado ao animais “predadores”, que sempre tem cargos de liderança ou que
exigem mais força e agilidade, e não às presas, animais em maior número, mas
que ficam com ocupações de menor importância. Porém, quando alguns animais
começam a desaparecer, a coelhinha Judy Hopps se envolve e contará com a ajuda
forçada do raposo malandrão Nick Wilde, para resolver a trama policial em até
48 horas.
Não se engane, esse roteiro é só
pano de fundo (e até que muito manjado e óbvio – os mais espertos desconfiarão da trama antes do meio do filme), porque o grande lance do filme foi tratar sobre um tema complexo e polêmico de forma lúdica e leve: o preconceito. Usando-se da
metáfora antropomórfica que a Disney já conhece há muito tempo, e fazendo um
paralelo de uma vida “humana” vivida por animais, nessa fábula tudo é tratado de forma muito
criativa e cômica e, sem você perceber, estará se divertindo com um tema que
garante muitas discussões.
A coelha Judy sofre preconceito
por ser fêmea e presa, numa corporação dominada por predadores machos. E mais:
ela quer ser independente e conseguir seu sucesso, não quer ser uma coelha parteira
de 200 filhos! Aliás, por ser um desenho da Disney, interessante que a chamada “Regrade Bechdel” talvez possa ser aplicada aqui: Judy não quer saber de romances ou
tramas ou papos sobre machos e, quando torna Nick seu parceiro, mesmo que em
determinado momento possamos achar que rolará um romance, ele não acontece!
Eles são parceiros de trabalho e amigos, apenas. A coelha ainda depende da ajuda de um
macho mais “esperto” e malandro para conseguir se virar, mas já é um passo,
para um estúdio que construiu por anos a imagem de “garotas princesas”.
O grande
lance do filme é, na verdade, sobre o preconceito de raças... Não só de predadores e presas. Por
várias vezes é questionada a ideia de “ser o que quiser” e o papel
estereotipado de cada animal. Em algumas piadas, as características de cada
animal são até ridicularizadas, ou usadas para garantir a risada, mas em outros
momentos a natureza de cada um é questionada. Uma das partes sensacionais é a visita ao retiro "nudista" e a reação de Judy.
É um tema que será mais apreciado
pelos adultos, que identificarão com mais facilidade as referências e alguns
traços de alguns personagens, como uma possível homossexualidade do tigre da
recepção do departamento de polícia (mais extrovertido) e do chefe de polícia
(mais contido e enrustido). Crianças, como sempre, verão menos do que nós vemos
e levarão com mais naturalidade o comportamento dos personagens, talvez aproveitando
melhor e absorvendo mais a mensagem de tolerância, respeito ao próximo e à sua natureza.
Interessante também que a própria protagonista passa por um momento em que se
dá conta de ter gerado uma onda de ódio entre os animais, e tenta resolver a
situação (duvido você não fazer comparações com a situação atual do nosso país).
Roubam a cena os
bichos-preguiças, que são sensacionais e tem as duas melhores piadas do
desenho (aguarde os pós-créditos)! No cinema, arrancou muitos e muitos risos da plateia, como há tempos eu
não via, e foi até aplaudido! É o desenho do ano, para mim, até o momento!
Nota: 9 melões! =D
O que fiquei pensando, ao ver esses três desenhos, é que cada vez mais as animações de cinema tem como alvo os adultos, não as crianças. Elas até aproveitam em muitos casos, mas tem histórias e piadas que são feitas para gente grande! É um caminho que os quadrinhos já trilham a muito tempo, mas não com o mesmo sucesso (ainda tem muito fã de Vingadores no cinema que acha quadrinhos coisa de adolescente). Por outro lado, é cada vez mais difícil ver um desenho para crianças, que seja feito para elas, sem que seja mal-feito ou ingênuo demais, ou que caia na forma híbrida para ganhar também os pais.
Algo a se pensar...
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