domingo, 30 de setembro de 2018

My Two Cents About: Sicario: Dia do Soldado





"Adiós"





Sicario - Terra de Ninguém (2015) é um dos melhores filmes da década. Dirigido por Denis Villeneuve (Blade Runner 2049) e escrito por Taylor Sheridan (Wind River e Hell or High Water), o filme mostrava de uma forma bem real uma operação do governo americano contra cartéis de droga do México e como os limites morais eram explorados nessa guerra.

Sicario: Dia do Soldado continua o debate deste tema, mas agora com um pouco mais de complexidade.




Taylor Sheridan volta no roteiro, agora acompanhado de Stefano Sollima (Gomorrah e Suburra) na direção de uma trama que conta como os cartéis de drogas estão contrabandeando terroristas na fronteira dos EUA. Após um ataque terrorista em pleno solo americano, a CIA envia Matt Grave (Josh Brolin) e o ex-agente secreto Alejandro Gillick (Benicio del Toro) para uma missão. Dessa vez não existem regras e nem amarras legais nessa operação. O plano principal é desestabilizar o tráfico causando um conflito entre os cartéis. Para isso, eles forjam o falso sequestro de Isabel Reyes (Isabela Moner), filha de um chefe dos cartéis. Em paralelo, acompanhamos a história de um jovem mexicano que vive nos EUA, mas que é aliciado para trabalhar para os cartéis, ajudando na travessia de imigrantes ilegais para os EUA.




O primeiro filme mostrava como era frágil a linha entre o bem e o mal. A moralidade e as instituições eram colocadas em dúvida. Dia do Soldado se aprofunda mais nas “peças” deste jogo. Em um mundo ambíguo e cinza, como os “Peões” são afetados? Todo mundo sabe que o tráfico de drogas existe porque temos pessoas de alto nível e interesses políticos envolvidos nisso. Toda ação que combate este tipo de atividade é impulsionada por algum tipo de ação política ou uma narrativa que seja interessante para um certo governo. De Pablo Escobar até El Chapo, é assim que a “banda Toca”.  Temos ações que “enxugam o gelo com pano” do problema, mas sabemos que não interessante para estabelichment resolver a situação por completo. Quando o ataque terrorista acontece na trama, o governo americano precisa dar uma resposta imediata para o seu povo, mas como fazer isso sem acabar com toda a situação? O cartel ajudou terroristas entrarem ilegalmente nos EUA. Isso até pode parecer inverossímil, mas é um bom exercício de pensamento proposto pelo roteirista Taylor Sheridan. Essa ideia expõe o quanto o governo americano é hipócrita nesse tipo de questão.




O filme poderia muito bem ir para o lado mais clichê e bobo, com alguma analogia ou referência ao governo Trump, mas é inteligente em mostrar como é interessante manter a “dinâmica de negócios” na fronteira dos EUA com o México. Essas constantes mudanças de narrativa afetam os personagens principais. Alejandro e Matt Graver recebem liberdade para bater de frente com um grande cartel, mas quando tudo muda, percebem que foram usados como ferramentas. Instrumentos usados para apaziguar uma situação política. No meio disso tudo ainda temos os adolescentes que são afetados por toda essa situação. De um lado Isabel, filha de um chefão que é usada para dar início ao conflito dos cartéis. Isso afeta Alejandro, que tem um passado triste envolvendo a sua própria família. Do outro lado temos Miguel Hernandez (Elijah Rodriguez), adolescente americano usado pelo cartel. Ele tem livre acesso entre os dois países, portanto consegue ter facilidades que a maioria dos coiotes não tem. Esse personagem participa da melhor cena do filme onde podemos ver o como é hipócrita a política anti-imigrante dos EUA.




Tecnicamente o filme não é tão esteticamente primoroso quanto o primeiro. Se não temos a lenda Roger Deakins na fotografia, pelo menos temos uma tentativa de emular o estilo do primeiro filme. Muitas tomadas aéreas, iluminação natural, paisagens do deserto. Era o mínimo que poderíamos esperar. As cenas de ação mantêm a mesma dinâmica do primeiro filme. Algo mais próximo da realidade, sem querer parecer algo mais cinematográfico. Benicio del Toro dá um show aqui. Se o seu personagem já tinha roubado a cena no primeiro filme, aqui ele é bem mais explorado. Josh Brolin está em um ano abençoado. Conseguiu impactar o mundo com Thanos em Guerra Infinita, e mantém o mesmo nível do primeiro filme. Isabela Moner mostra que tem muito futuro em Hollywood. Infelizmente não podemos ter Jóhann Jóhannsson na trilha sonora. O compositor morreu em fevereiro deste ano. Antes mesmo de sua morte ele já tinha cancelado vários projetos. Quem assumiu a trilha do filme foi a violoncelista islandesa Hildur Guðnadóttir. Hildur já tinha participado da trilha do primeiro filme.




Sicario: Dia do Soldado pode não ter a mesma perfeição artística de seu antecessor, mas consegue ser mais complexo na sua trama. Taylor Sheridan é um dos melhores roteiristas do gênero policial da atualidade. Ele realmente consegue colocar o dedo na ferida em questões delicadas, sem cair nas armadilhas e clichês dos assuntos abordados. O que poderia ser uma continuação rasa e sem inspiração, acaba sendo um olhar ainda mais profundo e sombrio de um problema que vai muito além do “bem vs mal” ou “polícia vs tráfico”.

Agora imaginem aqui: Um filme do Michael Mann com roteiro do Taylor Sheridan. JUST DO IT!


NOTA: 9,5 DESCARREGADAS DE PENTE DO ALEJANDRO








Lei também: Sicario e sua Narrativa Visual


Um comentário:

  1. Dia do Soldado, entretanto, pouco ultrapassa o senso de uma mera exploração mais rasa dos mesmos temas que atravessaram o original de Villeneuve, e para Sollima, infelizmente, é quase impossível não retornar sempre a ele. Na minha opinião, este foi um dos melhores filmes de ação que foi lançado. O ritmo é bom e consegue nos prender desde o princípio, em Sicario Dia Do Soldado Filme, eu recomendo muito no caso de que ainda não viram. Não tem dúvida de que Benicio del Toro foi perfeito para o papel de protagonista, falar do ator significa falar de uma grande atuação garantida, ele se compromete com os seus personagens e sempre deixa uma grande sensação ao espectador.

    ResponderExcluir